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Falar cada vez mais sobre autismo é fundamental para que exista conscientização, respeito e representatividade na nossa sociedade. Principalmente porque, segundo dados do CDC (Center of Diseases Control and Prevention) 1 a cada 36 pessoas está no espectro autista.
Porém, muitos pais, pessoas cuidadoras, familiares e até mesmo profissionais da educação, podem ter dificuldades em saber como explicar o autismo para crianças de forma simples, seja em casa com um irmão no espectro, na escola com colegas diagnosticados ou até mesmo um parente que recebeu o laudo de TEA.
Assim, essa é uma pergunta que pode gerar muitas dúvidas em pessoas adultas, que não sabem como abordar o TEA, de forma clara e compreensível, para crianças que estão convivendo com outras crianças com autismo.
Para ajudar você nesse sentido, conversamos com a Marina Zavitoski, psicóloga especializada em Análise do Comportamento Aplicada ao Autismo e especialista em Conteúdo Clínico ABA do time da Genial Care, e trouxemos dicas valiosas para que vão ajudar na hora de ter uma conversa acolhedora sobre autismo, permitindo que as crianças entendam melhor seus colegas, parentes ou amigos no espectro.
Antes de mais nada, conheça o autismo
Antes de entender como explicar o autismo de forma simples para uma criança, é importante que você conheça e tenha entendimento sobre ele.
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por dificuldades na comunicação e interação social e pela presença de padrões de comportamentos restritos e repetitivos.
Por isso, é fundamental que o adulto que for explicar sobre autismo para uma criança, seja ele quem for, tenha pelo menos uma base sobre o que é o transtorno para conseguir traduzir em uma linguagem mais acessível sobre os possíveis aspectos dele em outra criança.
Procure sites e artigos confiáveis sobre o assunto, leia livros e até mesmo converse com profissionais da área sobre questões do autismo. Quanto mais você souber, mais confiante se sentirá durante a conversa com o pequeno.
Dicas de como explicar o autismo de forma simples para crianças
Um ponto importante que Marina traz sobre como explicar o autismo de forma simples para as crianças é, antes de mais nada, entender que pessoas são sinônimo de diversidade. Ou seja, não importa se uma pessoa é típica ou atípica, ela vai ter suas próprias características e singularidades, e está tudo bem.
“Nós conseguimos ver diferenças em todo mundo, ninguém é igual. E o mesmo acontece quando falamos das crianças com autismo”, afirma a psicóloga. Assim, é preciso conscientizar para as diferenças que as crianças vão encontrar ao longo da vida e mostrar quem nem sempre existe algo “certo” ou “errado”, principalmente quando falamos de pessoas.
É importante destacar que o autismo não é uma doença e nem algo ruim, de forma a ajudar as crianças a entenderem que todas as pessoas são diferentes e isso é algo bom.
Uma dica é fazer o exercício das diferenças com as crianças: se for em uma sala de aula, que tal falarem o que vêem de diferente em cada uma das crianças? Fazendo isso, incentivamos todas elas a entenderem que a diversidade faz parte do nosso universo.
É legal usar exemplos simples e concretos que vão ajudar as crianças a entender o que está sendo explicado.
1. Use linguagem simples e adaptada à idade
A primeira dica para saber conversar e explicar o autismo para uma criança é pensar na linguagem usada para a idade dela. “Vamos garantir uma linguagem simples e compreensível de acordo com a faixa etária da criança e vamos deixar de lado os termos técnicos e difíceis, o ideal é ser muito lúdico nesse momento. Podemos fazer isso explicando que o autismo é uma maneira diferente de ver o mundo e de pensar”, complementa a terapeuta.
Por exemplo, é possível falar que algumas crianças com TEA poderão se comunicar de um outro jeito, sem ser com palavras e que algumas vezes eles podem ter dificuldades em lidar com as emoções, com mudanças. Mas que eles também adoram brincar, mas podem brincar de um jeito diferente, o que não impede que as outras crianças participem desses momentos.
Também podemos dizer que algumas crianças com autismo podem ter uma audição mais sensível, então os barulhos mais altos são muito difíceis e desconfortáveis. Ou então, que a criança tem muita dificuldade em lidar com as emoções, pois ainda está aprendendo e por isso que quando algo não sai como o esperado, alguns comportamentos mais difíceis podem acontecer.
Isso é importante para que todos entendam que em alguns momentos, a criança pode ter que sair do ambiente onde está ou eventualmente pode chorar em algum momento. Lembre-se de que o objetivo é transmitir a mensagem de forma clara e acessível.
2. Escolha um momento adequado
É claro que não existe um momento ideal para conversar sobre autismo com uma criança que quer aprender, mas é possível entender se aquela é uma hora mais adequada ou não para a conversa.
Encontre um momento tranquilo, em que a criança está disponível para ter essa troca, evitando situações de pressa, distração ou até mesmo sentimentais que a criança possa estar passando.
Certifique-se de que você terá tempo e atenção total durante a explicação para poder trazer seus pontos e também ouvir e responder às perguntas que o pequeno tem a fazer sobre o tema.
3. Foque nas informações principais sobre o TEA
O nível de detalhamento da conversa vai sempre depender da faixa etária das crianças e do nível de compreensão. Mas o principal é passar por alguns conceitos básicos e garantir o entendimento de forma positiva, ou seja, sem passar a imagem de algo ruim.
Lembrando de que cada pessoa com autismo é única, você pode destacar habilidades e características únicas que as pessoas no espectro possuem, como uma memória incrível ou uma atenção especial aos detalhes, focando que o transtorno não é uma coisa ruim, mas sim uma maneira especial que cada pessoa vive no mundo.
Marina aponta alguns itens essenciais que podem estar nessa conversa, como:
- O autismo é uma forma de ver e viver o mundo de um jeito diferente. Ou seja, o amigo com TEA pode ter maneiras diferentes de se comunicar, podendo fazer isso com figuras, gestos. Ou quando ele está feliz, pode demonstrar isso com movimentos repetitivos como balançar as mãos, correr, pular – pois ele entende as emoções e lidar com elas de forma diferente. Nem melhor, nem pior.
- Falar sobre as habilidades e interesses, ou seja, o colega pode ter interesses diferentes, pode ter muita facilidade em aprender sobre algum tema, e dificuldade para outros. Por exemplo, algumas crianças podem ser muito boas em contas matemáticas, mas podem ter dificuldade na escrita.
- É importante falar dos aspectos sensoriais também, já que alguns comportamentos da criança com TEA se fundamentam nisso. Por exemplo, a sensibilidade a barulhos muito altos, sensibilidade a texturas. Quando explicamos isso, conseguimos garantir que as demais crianças visualizem o porquê de algumas situações do dia a dia serem desafiadoras para o colega com TEA.
- Falar sobre interação social e comunicação é fundamental, principalmente com as crianças, já que as crianças são curiosas, querem brincar com os colegas e muitas vezes, podem surgir dúvidas como “Ele não me responde quando eu chamo”, “Ele não segue as nossas brincadeiras”.Então, explique que algumas crianças podem ter dificuldade para interagir com as outras, mas isso não significa que ela não queira ou que não possa, pelo contrário, temos que incentivar que esses momentos aconteçam. Quanto à comunicação, ressalta que também podem ter dificuldade para comunicar-se, por isso muitas vezes precisam de algum suporte visual ou algum auxílio para que sejam compreendidos.
- Não deixe de falar sobre a inclusão e a amizade, mostrando que todas as pessoas, independente de diagnóstico e diferenças, devem ser respeitadas e tratadas com carinho.
4. Estimule a empatia e a inclusão e valide os sentimentos da criança
Acima de tudo, valide os sentimentos e emoções da criança, demonstrando empatia pela situação. “Isso ajuda a criança a entender que o autismo é uma maneira diferente de ser e que as pessoas com autismo sentem e interagem com o mundo de uma forma diferente”, pontua Marina.
“E isso não significa que seja melhor ou pior, somente diferente. E que todos nós somos diferentes. É importante desfazer possíveis estereótipos que a criança possa ter, além de enfatizar a importância da inclusão. Você também pode incentivar a criança a ser empática, entendendo os desafios que os colegas com TEA podem enfrentar e que com a amizade e apoio, nós conseguimos ajudar muito mais e garantimos que a criança seja incluída e compreendida”.
Por isso, incentive a criança a ser amiga e inclusiva em relação às pessoas com autismo. Explique que todos têm sentimentos e desejam ser tratados com gentileza. Ensine que pequenos gestos de amizade e compreensão, como conversar de forma clara e paciente, podem fazer uma grande diferença na vida de alguém com autismo.
E se a criança quiser ajudar o colega, dê informações e orientações sobre como isso pode acontecer, por exemplo, em que momentos ela pode oferecer ajuda, como se comunicar com o colega, como respeitar as necessidades dele e por aí vai.
5. Responda às perguntas
Saiba que o pequeno vai ter perguntas sobre o autismo e as informações que você contar para ele, por isso, esteja preparado para responder às possíveis dúvidas que possam surgir, sempre de forma compreensível e acessível.
E também tá tudo bem se você não souber de alguma coisa durante a conversa, o importante é demonstrar abertura e paciência para esclarecer as questões e aprender junto ao longo do caminho. Sempre existe espaço para aprender, seja da parte de adultos ou de crianças, e é importante que os pequenos entendam que isso é algo positivo.
Lembre-se de que a curiosidade é natural e faz parte do processo de aprendizagem durante a vida toda!
A importância de promover a inclusão e a empatia ao falar sobre o autismo com outras crianças
Falar sobre autismo com outras crianças é necessário. E quando fazemos isso trazendo a importância da inclusão e da empatia, estamos contribuindo para um combate à estigmatização do diagnóstico e a discriminação também!
Muitas vezes, os estereótipos criados por toda a sociedade reforçam ideias erradas e que não são nada legais para crianças em fase de aprendizado, fazendo com que elas possam não querer interagir, ajudar, incluir.
“Então, é fundamental que todos nós tenhamos um papel transformador para mudar esse cenário, ressaltando a importância da inclusão, representatividade e diversidade”, reforça a psicóloga.
“Além disso, quando promovemos a empatia, estamos contribuindo para a interação social de qualidade para toda a vida das crianças, ajudando que eles se tornem adultos mais responsáveis e afetivos. Por isso, é fundamental incentivar laços de amizade e interações positivas entre as crianças. Dessa forma, garantimos que o assunto da diversidade seja naturalizado desde a infância!”
Conclusão
Entendemos que quanto mais naturalizado for o assunto, mais fácil a aceitação. Por isso, é muito importante que todos os adultos garantam acesso a informações verdadeiras e que utilizem uma linguagem acessível para conversar com as crianças.
Agora que você já sabe como para explicar o autismo de forma simples e acessível para outras crianças, você já está pronto para ter essa conversa com os pequenos. Lembre-se de ser paciente, positivo e empático durante a conversa.
Ao promover a compreensão e a inclusão, você estará contribuindo para a construção de um ambiente mais acolhedor e respeitoso para todos. Existem alguns livros infantis que ajudam a trazer essa temática de uma forma mais lúdica e que podem contribuir para incentivar a empatia e aceitação, ajudando a tangibilizar tudo que foi ensinado.
Já temos uma lista com 5 livros que foram indicados aqui no Blog, leia clicando no botão abaixo: