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Muitas famílias buscam por salas adaptadas de cinema para autista. Isso porque, apesar de algumas crianças e adultos com o transtorno conseguirem vivenciar a experiência sem desconforto, muitas precisam de um espaço com ajuste de luminosidade e som, por exemplo.
Essa pode ser uma questão de famílias com pessoas no espectro, constantemente em busca de espaços inclusivos de lazer para levar seus filhos. Todo espaço pode – e deveria – estar apto a receber pessoas autistas.
Como cinemas são ambientes que envolvem um fluxo grande de pessoas e bastante estímulos sensoriais, isso pode dificultar ou até mesmo contribuir para uma experiência não tão agradável para quem tem TEA.
Nesse aspecto, nasceu o Sessão Azul, um projeto de cinema para autista que conta com sessões adaptadas para crianças com distúrbios sensoriais e seus familiares.
Além de ser uma forma de garantir que pessoas com TEA possam aproveitar, ele também ajuda a expandir o diálogo sobre os espaços de lazer inclusivos e os direitos dos autistas, em diferentes âmbitos.
Neste texto, você vai entender melhor o que é esse cinema para autistas, como ele funciona e quais outras iniciativas existem para garantir lazer, bem-estar e diversão para pessoas no espectro.
Existem salas adaptadas de cinema para autista?
Atualmente, existe o Projeto de Lei (PL 133/2019) que assegura o acesso de pessoas com autismo a salas de cinema, incluindo a realização obrigatória de sessão adaptada para pessoas com TEA.
De autoria do Deputado Federal Augusto Coutinho, o texto foi aprovado em novembro de 2022 pela Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços da Câmara dos Deputados.
Na sua proposta, os cinemas brasileiros são obrigados a oferecerem 2% das sessões em formato adaptado, identificando as salas aptas com o símbolo mundial da conscientização do espectro autista. Símbolo esse usado para mostrar a inclusão e direitos de pessoas com autismo.
O projeto prevê algumas alterações que, se forem feitas, já tornam o ambiente mais inclusivo para pessoas no espectro ou com transtorno do processamento sensorial, como:
- adequações luminosas;
- adequações do volume sonoro.
A proposta está em caráter conclusivo e ainda será analisada pelas Comissões de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência; e de Constituição e Justiça da Câmara.
Vale ressaltar que, mesmo sem lei oficializada, qualquer rede de cinema pode adaptar suas sessões para torná-las mais inclusivas e receber, de forma mais confortável e segura, pessoas neurodivergentes.
Conheça a Sessão Azul: cinema adaptado para autistas
Criado por duas psicólogas, a Sessão Azul é um projeto focado em ajudar famílias a encontrar ambientes inclusivos para levar suas crianças, já que ainda é comum que muitas delas sofram ao sair de casa e se sintam julgadas nas reações das pessoas a partir dos comportamentos de seus filhos autistas.
Nessa sala adaptadas de cinema para autista, todas as sessões são adaptadas com sons mais baixos e luz acessa, para que as crianças com distúrbio sensorial se sintam mais confortáveis durante todo o filme.
Além disso, não são passados trailers comerciais que não façam parte do filme, e todos podem entrar e sair quando quiser, dançar, gritar ou cantar à vontade.
Outra característica muito importante da Sessão Azul é que as sessões funcionam como uma extensão do trabalho terapêutico já realizado com as crianças, diminuindo barreiras e aumentando o engajamento dos pais nos processos de intervenção.
Isso porque, a criança está em um ambiente mais cotidiano, e a família pode praticar os aprendizados e estimular ela em um lugar diferente da sala de terapia ou de ambientes onde a intervenção ocorre, promovendo a generalização.
A ideia surgiu de uma inspiração do Cinematerna, uma iniciativa de sessões de cinema para mães (e pais) com bebês de até 18 meses, seguidas de bate-papo sobre maternidade e pós-parto.
As sessões são sempre realizadas nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Distrito Federal e Pará. É possível acompanhar a programação direto do site do projeto.
A iniciativa é feita em parcerias com as redes de cinema como Cinemark, Cinépolis e UCI, por exemplo, e conta ainda com voluntários treinados para saber como lidar com situações que podem ocorrer durante o filme.
Filmes nacionais que falam sobre autismo
Como parte do lazer inclusive, junto da Sessão Azul e salas adaptadas de cinema para autistas, existem algumas obras brasileiras que falam sobre TEA e trazem a perspectiva nacional para o cinema.
Isso porque, mesmo com o aumento de séries e filmes sobre autismo, a produção ainda é majoritariamente internacional, focando em obras contadas através de pessoas norte-americanas ou de outras nacionalidades.
Mesmo sendo algo positivo que ajuda na diversidade e representatividade audiovisual quando falamos de pessoas com deficiência, ainda são poucos os filmes nacionais que também contam sobre pessoas autistas e brasileiras.
Pensando no Dia do Cinema Brasileiro, comemorado em 19 de junho, e também em iniciativas como a Sessão Azul, separamos 2 documentários nacionais que falam sobre autismo e trazem pessoas autistas.
Em um mundo interior
Em um Mundo Interior, lançado em 2018, é um documentário brasileiro que acompanha a vida de 7 famílias que convivem com pessoas com TEA, em diferentes níveis de suporte.
Através do relato e perspectivas dessas famílias, o documentário aposta em mostrar a diversidade do autismo e como cada pessoa no espectro é única e possui suas complexidades e particularidades.
Além disso, outro ponto desse documentário é que ele tenta apresentar uma experiência sensorial diferente para quem está assistindo, a fim de criar uma maneira mais próxima de compreender como pessoas autistas enxergam o mundo ao seu redor.
Atualmente o documentário está disponível no streaming da Globo Play, como forma de série, dividido em 6 capítulos curtos.
Meu amigo Lorenzo
Lançado no Dia Mundial da Conscientização do Autismo de 2024, esse documentário nacional mostra a relação de amizade e cumplicidade de mais de 15 anos entre Lorenzo Barreto, menino autista, e André Luiz Oliveira, cineasta e músico que dirigiu o filme.
O documentário fala sobre como a musicoterapia pode ser uma terapia complementar usada nas intervenções para crianças com TEA. No caso de Lorenzo, o contato com a música foi a forma que ele encontrou de se comunicar e expressar com o mundo.
O filme narra os vários anos de trabalho clínico da musicoterapeuta Clarisse Prestes, com Lorenzo se organizando e aprendendo com música e seu interesse específico e melhora na qualidade de vida.
“Meu amigo Lorenzo” teve uma pré-estreia no dia 02/04/2024 no Cine Cultura Liberty Mall, em Brasília, e depois disso esteve em cartaz na cidade. Por enquanto, não está disponível em nenhum streaming.
Como salas adaptadas de cinema para autista ajudam no lazer de crianças no espectro?
Várias atividades de lazer, como ir a festas, shoppings, restaurantes e cinemas, podem ser bastante incômodas para pessoas autistas e suas famílias. Isso porque, esses espaços não estão preparados para receber indivíduos com alterações sensoriais.
Exatamente por isso, salas adaptadas de cinemas para autista como a Sessão Azul e outros ambientes adaptados são importantes para garantir que as crianças no espectro possam vivenciar momentos de bem-estar com a família, e aproveitar no dia a dia.
Além disso, nesse cinema as sessões contam com profissionais especializados e que podem ajudar as crianças durante a adaptação do espaço, orientando os pais em como lidar com possíveis dificuldades e permitindo o conforto no processo.
Quanto mais ambientes como esses existirem, mais oportunidades de independência criamos para que pessoas no espectro ocupem os espaços que lhes são garantidos enquanto parte da sociedade.
Fora que, estímulos e intervenções como essas são importantes para o desenvolvimento de habilidades sociais, auxiliando no aprendizado e desenvolvimento do cérebro, ligados à felicidade e alegria.
Conclusão
A iniciativa da Sessão Azul é essencial para garantir que pessoas com TEA consigam encontrar espaços de lazer acessíveis e inclusivos. Que ela seja apenas o começo de tudo que podemos construir para garantir cada vez mais acesso à comunidade autista.
Além disso, explorar o TEA por meio de filmes e obras ajuda a ampliar a compreensão sobre o transtorno e potencializa que cada vez mais pessoas se sintam representadas em diversos espaços.
Por isso, leis como a Berenice Piana — Nº 12.764 — e a Lei Brasileira da Inclusão de Pessoa com Deficiência — Nº 13,146 — são tão importantes por garantirem acesso à cultura, esporte, turismo e lazer para pessoas com deficiência.
Já que por lei, é direito de pessoas autistas terem meia entrada na participação desses eventos, estendido também para o acompanhante.
Além disso, existem muitos outros direitos assegurados a pessoas autistas e suas famílias. Saiba o que é lei e como garantir seu acesso a elas: