Pesquisar
Adulto apontando para criança e ela está com a feição triste

Punição positiva no autismo: o que é e discussões sobre o tema

A punição positiva é um dos temas mais polêmicos envolvendo a Análise do Comportamento Aplicada (ABA). Especialmente quando abordamos sua utilização em intervenções feitas com pessoas autistas, essa estratégia ainda causa muita discussão no campo teórico e aplicado.

Afinal, a punição realmente é uma técnica adequada e ética para ajudar a diminuir comportamentos no autismo? Sua utilização realmente traz os resultados esperados? É ético usá-la? Neste artigo, trazemos informações que podem ajudar a responder estas perguntas.

O que é punição positiva?

A própria definição do termo ‘punição’ traz controvérsias entre pesquisadores. Os autores Azrin e Holz, por exemplo, definiram punição como “consequência do comportamento que reduz a probabilidade futura desse comportamento”. De acordo com esta ideia, existe uma simetria entre punição e reforço.

Num primeiro momento, o próprio Skinner chegou a concordar com a definição, mas a medida que ela foi melhor estudada, chegou-se à conclusão de que a punição não necessariamente diminuía a taxa de resposta, mas conduzia a pessoa a se comportar de outras formas, principalmente frente ao agente punidor.

Assim, a definição posteriormente proposta por Skinner entendia o processo de punição como “a administração de um estímulo reforçador negativo ou a retirada de um reforçador positivo em seguida à ocorrência de uma resposta”.

Sendo assim, entendemos que, segundo o pai do behaviorismo radical, a punição é um recurso empregado quando a intenção é eliminar uma conduta indesejada (ou induzir uma pessoa a se comportar de determinada maneira). Pela proposição, não existe uma simetria entre a punição e o reforço.

Existem ainda outros autores, como Sidman e Catania que trazem outras proposições para o significado do termo “punição”. Mas somente o fato de haver uma discussão acerca desse tema já demonstra a dificuldade em se entender se ela é efetiva ou não para o propósito de reduzir comportamentos considerados desafiadores e menos aceitos socialmente.

Punição positiva x punição negativa

Dentro do contexto da Análise do Comportamento, existe a divisão da punição entre positiva e negativa. Na prática, isso significa que:

  • Punição positiva: ocorre a partir da adição de um estímulo aversivo após a ocorrência de um comportamento desafiador ou menos aceito socialmente. Também conhecida como punição por estimulação contingente.
  • Punição negativa: ocorre a partir da retirada de um estímulo reforçador/prazeroso após a ocorrência do comportamento desafiador ou menos aceito socialmente.

Quando usamos a punição?

Ao iniciar seus estudos sobre a punição, Skinner entendia que esse recurso já era amplamente utilizado na sociedade como um todo e em diversos ambientes comuns, como em casa e na escola, por exemplo.

Vale reforçar que embora a discussão acerca do autismo seja sobre o uso da punição positiva enquanto inibidor de comportamentos tidos como desafiadores, nenhum dos autores, nem Skinner, nem Azrin e Holz trabalharam com indivíduos com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Suas percepções foram baseadas apenas na ciência central da Análise do Comportamento (AC) e na Análise Experimental do Comportamento (AEC).

Ainda assim, as principais discussões em torno do tema dizem respeito à manipulação destas estratégias para indivíduos com autismo. No entanto, ela não é usada nem no contexto de diminuir esses comportamentos, para isso, são usadas estratégias de  Reforço Diferencial de Comportamento Incompatível ou alternativo.

A punição, por outro lado, quase nunca é usada, a não ser quando falamos em time out, por exemplo. Quando falamos de extinção, não estamos falando em punição. Mas, sim, em análise funcional e intervenção a partir das funções do comportamento desafiador.

Sendo assim, se uma criança emite um comportamento desafiador de gritar ou bater para pedir um item, por exemplo, extinguimos não dando o item desejado, mas não punindo o comportamento de gritar/bater, e ensinamos para criança comportamentos alternativos e adequados para pedir o item desejado.

Quais são os efeitos da punição no autismo?

Como já dissemos anteriormente, o uso da punição é um tema bastante polêmico. Seja do ponto de vista teórico, seja do ponto de vista aplicado. O artigo “Duas formulações comportamentais de punição: definição, explicação e algumas implicações”, dos autores Paulo César Morales Mayer e Maura Alves Nunes Gongora, aborda esse assunto.

Para eles, as implicações acerca da punição são:

  • No campo teórico: não existe acordo, nem relação em sua definição, nem quanto à explicação de seus efeitos;
  • No campo aplicado: não se chega à conclusão se a punição deve ou não compor o arsenal tecnológico de analistas do comportamento, se é ético usá-la em circunstâncias especiais ou se é eficaz como procedimento enfraquecedor ou supressor de comportamentos.

Em razão disso, autores como Skinner e Sidman sempre foram cautelosos quanto ao uso da punição em todos os contextos. Não que ambos negassem que ela tivesse efeitos sobre o comportamento, mas sim que entendiam que ela não era semelhante aos processos de reforçamento, por exemplo, e que seus efeitos deveriam ser melhor estudados.

Durante seus estudos, Skinner entendeu ainda que um comportamento punido não necessariamente deixava de ocorrer, mas causava na pessoa punida um comportamento de fuga ou esquiva.

Isso é, ela ainda estaria inclinada a emitir o mesmo comportamento novamente, mas evitar a punição. Então, o efeito da punição era algo transitório, que geralmente é eficaz somente frente ao agente punidor, uma vez que, se ela parar de ocorrer, o comportamento pode retornar. O que é diferente do que ocorre quando o reforçamento é usado.

Para explicar isso, Skinner entendeu que o uso da punição podia gerar três efeitos principais:

  • Eliciação de respostas emocionais: o indivíduo se sente mal sendo punido e isso se soma ao fortalecimento das respostas operantes que reduzem a estimulação aversiva. Isto é, quando ele é reforçado negativamente pela não punição quando não se comporta de forma que o faria ser punido, isso faz com que ocorra uma diminuição da resposta que ele aprendeu que não deve ser feita frente ao agente punidor.
  • Respostas concorrentes: o indivíduo começa a emitir respostas que não o fazem se sentir mal, nem ser punido diante do agente punidor.
  • Punição de respostas aproximadas: Qualquer comportamento que reduza a estimulação aversiva será condicionado, todas as respostas que acompanham a resposta punida serão inibidas de acontecer.

Além disso, ele ainda pontuava que o simples fato de não emitir mais um determinado comportamento desafiador não significava aprendizado. Para isso, era necessário que a pessoa não só deixasse de emitir o comportamento desafiador, como também aprendesse um comportamento novo.

Para tanto, ambos os autores (Skinner e Sidman) se mostraram contrários ao uso da punição com objetivo de inibir um comportamento, seja pela população, na escola, terapia e outros contextos.

Vale lembrar ainda que toda estratégia que faz parte da Análise do Comportamento Aplicada ao autismo precisa ser aplicada por profissionais clínicos com experiência. Para conhecer mais sobre critérios importantes para construir a equipe clínica, leia nosso blog.

Conheça nosso atendimento para autismo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Terapias pelo seu plano com início imediato
Garanta o início das terapias da sua criança nas unidades de Morumbi ou Pinheiros, em São Paulo.
Conheça todas as nossas unidades na Grande São Paulo.
1º lugar em medicina | Elizeu Você sabia que Elon Musk é autista? Autismo leve pode piorar? Mito ou verdade? Existe teste online para diagnosticar o autismo infantil? Direitos de pais com filhos com autismo Pondé afirma que autismo está no ‘hype’ e causa polêmica Uma Advogada Extraordinária: representatividade do autismo Autismo: Fui diagnosticada aos 60 anos e agora? Brinquedos para autismo: tudo que você precisa saber! AUTISMO e ASPERGER: 25 sinais de Autismo Infantil AUTISMO em ADULTOS: Quando e como saber? O Rol taxativo da ANS chegou ao fim? 5 brincadeiras para o Dia das Crianças Canabidiol no tratamento de autismo Outubro Rosa: 5 maneiras da mãe se cuidar Graus de autismo: Conheça quais são e como identificá-los 6 personagens autistas em animações infantis Estereotipias: o que são e quais as principais em pessoas autistas Diagnóstico de autismo: quais os próximos passos. Veja 5 dicas Quais os principais sinais de que meu filho tem autismo? Diagnóstico de autismo do meu filho. O que preciso fazer? Messi é autista? Veja porque essa fake news repercute até hoje Conheça os principais tratamentos para pessoas no espectro autista Hipersensibilidade: fogos de artifício e autismo. O que devo saber? 3 Animações que possuem personagens autistas | Férias Geniais 3 aplicativos que auxiliam na rotina de crianças autistas Déficit na percepção visual: Como a terapia ocupacional pode ajudar? Escala M-CHAT: saiba como funciona! Síndrome sensorial: conheça o transtorno de Bless, filho de Bruno Gagliasso Dia do cinema nacional: conheça a Sessão Azul Meu filho foi diagnosticado com autismo, e agora? Diagnóstico tardio de autismo: conheça a caso do cantor Vitor Fadul 7 passos para fazer o relatório descritivo da criança com autismo 10 anos da Lei Berenice Piana: veja os avanços que ela proporcionou Park Eun-Bin: descubra se a famosa atriz é autista Síndrome de Tourette: entenda o que aconteceu com Lewis Capaldi Ecolalia: definição, tipos e estratégias de intervenção Dia da escola: origem e importância da data comemorativa Neuropediatra especializado em autismo e a primeira consulta Brendan Fraser e seu filho Griffin Nova temporada de “As Five” e a personagem Benê Show do Coldplay: momento inesquecível para um fã no espectro Como a fonoaudiologia ajuda crianças com seletividade alimentar? Prevalência do autismo: CDC divulga novos dados Como ajudar crianças com TEA a treinar habilidades sociais? Neurodivergente: Saiba o que é e tire suas dúvidas Símbolos do autismo: Veja quais são e seus significados Eletroencefalograma e autismo: tudo que você precisa saber Autismo e TDAH: entenda o que são, suas relações e diferenças Diagnóstico tardio de autismo: como descobrir se você está no espectro? Autismo e esteriótipos: por que evitar associar famosos e seus filhos Tem um monstro na minha escola: o desserviço na inclusão escolar Conheça a rede Genial para autismo e seja um terapeuta de excelência MMS: entenda o que é o porquê deve ser evitada Autismo e futebol: veja como os torcedores TEA são representados Diagnóstico tardio da cantora SIA | Genial Care 5 informações que você precisa saber sobre o CipTea Cordão de girassol: o que é, para que serve e quem tem direito Sinais de autismo na adolescência: entenda quais são 18/06: dia Mundial do orgulho autista – entenda a importância da data Sala multissensorial em aeroportos de SP e RJ Por que o autismo é considerado um espectro? 5 formas Geniais de inclusão para pessoas autistas por pessoas autistas 3 atividades de terapia ocupacional para usar com crianças autistas Como aproveitar momentos de lazer com sua criança autista? Masking no autismo: veja porque pessoas neurodivergentes fazem Como fazer um relatório descritivo? Lei n°14.626 – Atendimento Prioritário para Pessoas Autistas e Outros Grupos Como é para um terapeuta trabalhar em uma healthcare? 5 livros e HQs para autismo para você colocar na lista! 5 atividades extracurriculares para integração social de crianças no TEA Dicas de como explicar de forma simples para crianças o que é autismo Nova lei aprova ozonioterapia em intervenções complementares Autismo e plano de saúde: 5 direitos que as operadoras devem cobrir Parece autismo, mas não é: transtornos comumente confundidos com TEA 3 séries sul-coreanas sobre autismo pra você conhecer! Irmãos gêmeos tem o mesmo diagnóstico de autismo? Quem é Temple Grandin? | Genial Care Rasgar papel tem ligação com o autismo? O que é rigidez cognitiva? O que é discalculia e qual sua relação com autismo? Conheça o estudo retratos do autismo no Brasil 2023 | Genial Care Letícia Sabatella revela ter autismo: “foi libertador” Educação inclusiva: debate sobre acompanhantes terapêuticos para TEA nas escolas Emissão de carteira de pessoa autista em 26 postos do Poupamento Se o autismo não é uma doença, por que precisa de diagnóstico? Como conseguir laudo de autismo? CAA no autismo: veja os benefícios para o desenvolvimento no TEA Como a Genial Care realiza a orientação com os pais? Como é ser Genial: Mariana Tonetto Terapeuta Ocupacional no autismo: entenda a importância para o TEA Como é ser um fonoaudiólogo em uma Healthtech Genial Care Academy: conheça o núcleo de capacitação de terapeutas Tramontina cria produto inspirado em criança com autismo Síndrome de asperger e autismo leve são a mesma coisa? Jacob: adolescente autista, que potencializou a comunicação com a música! Dia das Bruxas | 3 “sustos” que todo cuidador de uma criança com autismo já levou Conheça mais sobre a lei que cria “Centros de referência para autismo” 3 torcidas autistas que promovem inclusão nos estádios de futebol Como usamos a CAA aqui na Genial Care?