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A neuropediatria e o autismo são termos que estão ligados entre si, principalmente quando falamos do processo de diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Isso porque profissionais que atuam nessa área se dedicam ao estudo de transtornos do desenvolvimento e maturação do sistema nervoso, ou seja, seu atendimento é voltado para crianças com desenvolvimento atípico.
Por esse motivo, é muito comum que neuropediatras estejam presentes durante a investigação e emitam o laudo de autismo para famílias, ainda acompanhando seus pacientes durante a jornada de intervenções para o desenvolvimento.
Para explicar mais sobre a relação entre neuropediatria e autismo, convidamos o Dr. Carlos Gadia, CEO e fundador da Tita Therapy e um dos neuropediatras especializados em autismo mais conhecidos do Brasil.
Neuropediatria e autismo: qual a relação?
De acordo com o Dr Gadia, a neuropediatria é uma especialidade relativamente nova e cujos profissionais ainda são muito difíceis de encontrar no Brasil. “Se formos pensar que autismo sempre existiu, temos que pensar que, certamente, nos séculos 17, 18 e 19, quem cuidava disso não eram necessariamente especialistas.”
“Quando começaram a haver especialistas no mundo, a psiquiatria foi a especialidade que surgiu com mais força, principalmente porque originalmente os primeiros entendimentos a respeito do transtorno colocaram autismo como uma manifestação muito precoce de esquizofrenia e durou isso muito tempo”, pontua.
Ele ainda enfatiza que o principal objetivo da neuropediatria no autismo é avaliar os marcos do desenvolvimento infantil e entender se aquela criança apresenta um desenvolvimento típico ou atípico. Para, então, encaminhá-la às intervenções necessárias.
“A neuropediatria atua do ponto de vista de neurodesenvolvimento e, por isso, é importante que sejamos extremamente atentos aos marcos do neurodesenvolvimento infantil. Não quer dizer que um pediatra não faça isso, mas eles estão acostumados a atender 20, 30, 40 crianças por dia e avaliar interação social dentro de uma situação dessas é praticamente impossível”.
Ainda conforme o Dr. Gadia explica, é ainda mais essencial que os profissionais estejam atentos e confiem nos relatos das famílias. “É importante ouvir o que os pais e mães têm a dizer, principalmente as mães. Elas raramente estão erradas e muitas vezes percebem as coisas bem antes”.
Quais são os sinais de atraso no desenvolvimento que a família precisa estar alerta?
Os sinais que indicam que a criança tem um atraso no desenvolvimento podem aparecer logo nos primeiros meses de vida. Mas segundo o Dr. Gadia, as famílias tendem a perceber melhor alertas mais evidentes, como o atraso na fala após os dois anos.
Para isso, ele alerta para outros sinais de atraso na linguagem vocal que também são importantes:
- Ausência de balbucio aos 12 meses de idade;
- Ausência de palavras simples aos 16 meses de idade;
- Ausência de duas palavras juntas aos 24 meses de idade, que não sejam ecolálicas (ecolalia imediata).
Dr. Gadia ainda reforça a importância dos profissionais estarem atentos a esses marcos e não desvalidarem as suspeitas da família. “Quando a gente diz ‘não se preocupa, mãezinha, não é nada, estamos, de certa maneira, menosprezando a pessoa que mais sabe sobre seu filho ou sua filha”.
Ele lembra que, apesar do conceito de que cada pessoa é única e se desenvolve à sua própria maneira, os marcos do desenvolvimento são importantes para entender quando é preciso de intervenções para estimular o aprendizado.
“Muitas pessoas, inclusive, profissionais, às vezes dizem que ‘ah, mas o primo em segundo grau do namorado da vizinha começou a falar com 5 anos de idade’. Sim, e por que você se lembra disso? Porque isso é tão raro que ficou gravado na sua memória, não podemos usar essa exceção como regra ou justificativa para não tomarmos ações”, afirma.
Neuropediatras fazem parte da equipe que atende autistas?
Questionado sobre a presença de profissionais da neuropediatria nas equipes que compõem as intervenções e atendimento às pessoas autistas, o Dr. Gadia informa que esse papel é tão importante quanto no processo diagnóstico de TEA.
“Muitas vezes, a família vai até o neuropediatra, fecha o diagnóstico e ouve ‘nos vemos daqui a um ano’. Isso é errado porque a neuropediatria precisa estar em contato com outros profissionais que atendem a criança. É muito comum, inclusive, e eu sempre digo que acho isso essencial, que aquela equipe toda tenha um ‘capitão’, e o profissional de neuropediatria, muitas vezes, é essa pessoa”, reforça.
Por fim, ele ainda lembra da importância da transmissão de informação sobre o tema. “É muito difícil ainda encontrar profissionais da neuropediatria no Brasil, e quando encontramos, a maioria não atende pelo SUS e nem por meio de convênio, o que torna ainda mais difícil o atendimento das famílias. Por isso, é tão importante transmitir informações precisas e de qualidade sobre isso para atingir cada vez mais pessoas”, conclui.
Para aprender mais sobre autismo e desenvolvimento, leia nosso blog.