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As intervenções focadas na aquisição de habilidades são muito importantes para crianças com atrasos no desenvolvimento, já que é através delas que os repertórios deficitários podem evoluir, construindo o caminho para uma vivência plena do cotidiano.
Entretanto, para que um repertório possa ser desenvolvido na terapia, é necessário que o terapeuta conheça a motivação da criança e possa utilizá-la a favor desse desenvolvimento.
Nesse texto, vamos discutir alguns passos e atitudes que podem ajudar o terapeuta a utilizar a motivação da criança como uma alavanca para o desenvolvimento, garantindo a aquisição de repertórios importantes. Continue lendo para aprender!
O que é motivação na terapia?
A motivação é uma “força” que impulsiona a pessoa a agir. Nós a reconhecemos como um “estado”, mas é importante saber que nos sentimos motivados a depender de fatores externos, como recompensas e reconhecimento.
Quando falamos sobre a motivação da criança durante as intervenções terapêuticas e educativas, estamos pensando em como podemos garantir o engajamento nas atividades, fazendo com que consiga alcançar os objetivos propostos.
Crianças motivadas tendem a se envolver mais ativamente nas atividades, aprender com mais eficácia e apresentar maiores progressos. Por isso, no espaço clínico, os profissionais devem ser capazes de garantir a motivação da criança, para que, assim, ela consiga desenvolver as habilidades almejadas.
Por onde começar a entender a motivação da criança?
Crianças motivadas são mais propensas a se engajar nas atividades propostas, mantendo o foco e a atenção por períodos mais longos. Além disso, a motivação aumenta a disposição da criança para aprender e experimentar novas habilidades.
Conheça os interesses da criança
O primeiro passo para o sucesso de uma intervenção é conhecer a motivação da criança: o que ela gosta de fazer quando está sozinha? Que tipo de brincadeiras faz com pares? E com adultos? Existem temas de interesse especial?
Para responder a essas e outras perguntas, o terapeuta tem duas principais ferramentas: a entrevista e a observação.
A entrevista, enquanto processo indireto de coleta de dados, reúne informações importantes sobre a criança através do relato dos familiares, cuidadores, professores, entre outros.
Para descobrir mais sobre a motivação da criança através da entrevista, o profissional deve questionar sobre suas atividades e preferências.
Já a observação, como forma direta de coleta de dados, se constitui em atentar-se ao comportamento da criança durante a interação.
A fim de saber mais sobre a motivação da criança durante as observações, o terapeuta deve estar atento àquilo que mobiliza a criança, despertando seu interesse e engajamento.
Teste a motivação da criança
Depois de coletar os dados, é importante que o profissional seja capaz de fazer hipóteses sobre a motivação da criança e testá-las.
Se, durante a avaliação, o terapeuta hipotetiza que a criança se interessa por brinquedos de encaixe, ele deve apresentar diversos tipos de brinquedos de encaixe para a criança.
Além disso, ele deve atentar-se a como a criança responde àquilo que ele apresenta. Para isso, pode ser útil considerar alguns sinais de engajamento e motivação:
- Olhar para o item ou atividade
- Mover-se em direção ao item ou atividade
- Manipular o item
- Engajar-se na atividade, ainda que não consiga realizá-la de forma perfeita
- Solicitar o item ou atividade, seja de forma vocal, através de gestos comunicativos ou comunicação alternativa
E como posso utilizar a motivação da criança na intervenção?
Após conhecer os itens e atividades que motivam a criança, o terapeuta deve usar desse conhecimento para planejar e implementar a sua sessão. Ele deve se atentar a algumas práticas importantes:
Apresente atividades com características preferidas pela criança
Ao utilizar da motivação da criança no planejamento das atividades, o terapeuta garante engajamento e, assim, favorece o aprendizado.
Pense só: se você sabe que a criança gosta de instrumentos musicais, não seria o ideal ensinar contagem através de músicas? Da mesma forma, se uma criança tem preferência por carrinhos, não parece ideal ensiná-la o repertório de seguir instruções, iniciando por aquelas relacionadas ao carrinho, como empurrar, puxar ou girar?
Apresente consequências preferidas pela criança depois de atividades
Após a finalização de uma atividade difícil, o terapeuta pode (e deve) apresentar brincadeiras e itens preferidos pela criança.
Você pode imaginar isso pensando em uma criança que faz uma atividade de ligar os pontos e, ao terminar, pode brincar com a massinha de modelar, que é um item de preferência.
Mescle atividades mais preferidas e menos preferidas
Quando o terapeuta descobre algo de alta preferência para a criança, é comum que ele deixe que a criança manipule e brinque com o item por bastante tempo.
Entretanto, já sabemos que a motivação comumente diminui conforme o tempo que se tem acesso ao item ou atividade de preferência.
Por isso, é importante que o terapeuta saiba mesclar em uma proporção ideal as atividades preferidas com outras menos preferidas, o que ajuda a manter a criança engajada e responsiva à intervenção!
Crie um ambiente de aprendizagem motivador
Criar um ambiente que favoreça a motivação é essencial para que a criança se sinta confortável e possa usar isso a seu favor.
Isso inclui aspectos físicos e emocionais do ambiente de aprendizagem. Aqui, é possível decorar o espaço de forma colorida e atrativa, utilizando materiais que chamem a atenção da criança. Também é importante que o terapeuta seja encorajador, e consiga validar o engajamento da criança nas atividades propostas. Um terapeuta emocionalmente conectado à criança é capaz de compreender suas dificuldades e, ao mesmo tempo, incentivar e acreditar no potencial de seus pontos fortes.
Para favorecer o engajamento, um bom instrumento é a rotina estruturada de forma clara e previsível, ajudando a criança a se sentir segura e confortável com aquilo que precisa ser feito. Além disso, é importante dar autonomia à criança na medida certa, fornecendo suporte conforme necessário para que ela seja capaz de realizar as tarefas e atividades com êxito.
Ainda, é possível aumentar o engajamento criando oportunidades de escolha entre diferentes atividades, incluindo a criança no processo de decisão sobre a ordem na qual fará as tarefas e, assim, promovendo senso de controle e autonomia;
Conclusão
Usar a motivação da criança a favor do aprendizado faz toda a diferença no processo de terapia!
Ao conhecer e testar a motivação da criança, o terapeuta é capaz de utilizá-la para produzir um maior engajamento, garantindo aprendizagem real e significativa, que é o objetivo da intervenção.
A motivação não só facilita o aprendizado, mas também promove um desenvolvimento mais harmonioso e satisfatório para a criança.
Pais e profissionais da saúde devem trabalhar juntos para implementar essas estratégias, sempre atentos às necessidades e preferências individuais da criança, garantindo assim uma abordagem personalizada e eficaz.
Aqui em nosso blog já temos um conteúdo que fala sobre os reforçadores e como isso pode ajudar nesse momento. Que tal continuar a leitura e aprender mais?