Índice de Conteúdos
No dia 13 de outubro comemoramos o “Dia Nacional do Terapeuta Ocupacional e do Fisioterapeuta”. Essa data foi escolhida em 1969, quando o Decreto-Lei 938regulamentou os profissionais de terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas no Brasil.
Com mais de 50 anos dessa data, esses profissionais reforçam cada vez mais o seu compromisso com a construção coletiva da saúde integral da população. Apesar de ser uma data de celebração, também é importante olharmos para o papel desses profissionais e como eles impactam a vida de pessoas com TEA.
Sabemos que a T.O. é uma profissão essencial, principalmente quando falamos de intervenções para TEA. Para entender mais sobre os desafios, oportunidades e o futuro da profissão, conversamos com duas referências na área: Valeska Cardeal e Samara Costa.
Ao longo deste texto, você confere insights valiosos sobre a prática da Terapia Ocupacional no Brasil, o crescimento da demanda por Integração Sensorial e caminhos possíveis para fortalecer ainda mais essa atuação.
Por que precisamos de um dia do terapeuta ocupacional?
Os terapeutas ocupacionais são profissionais essenciais quando falamos sobre desenvolvimento de habilidades de pessoas no espectro, principalmente pela Integração Sensorial, que ajuda pessoas com dificuldades sensoriais no processamento de estímulos.
Segundo o COFFITO — Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional — a terapia ocupacional é uma profissional focada no estudo, tratamento e prevenção de pessoas com alterações motoras, afetivas, cognitivas e perceptivas, por conta ou não de transtornos genéticos, traumáticos ou doenças adquiridas ao longo da vida.
No Brasil, a Terapia Ocupacional tem ganhado destaque como uma profissão essencial para a promoção da saúde e inclusão social. No entanto, apesar do reconhecimento crescente, ainda enfrentamos desafios significativos, especialmente no que diz respeito à disponibilidade de profissionais qualificados.
Conforme os dados mais recentes do COFFITO, o Brasil conta com cerca de 17.500 mil terapeutas ocupacionais, dando uma média de 6,6 profissionais para cada 100 mil habitantes. Esse número está muito abaixo do recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde).
Atualmente, existe um déficit de cerca de 24 mil terapeutas ocupacionais no país, algo ligado à urgência de investimentos e formações nessa profissão tão importante.
Inclusive, a falta de profissionais especializados em T.O. implica em uma diminuição da expectativa de vida de pessoas que precisam dessa especialidade para desenvolverem suas rotinas e habilidades, como pessoas no espectro.
Valeska, fundadora da Sensory IS, conta que, ao mesmo tempo que temos profissionais excelentes trabalhando com seriedade para levar a Terapia Ocupacional e a Integração Sensorial adiante, também vemos uma banalização do método.
“Penso que agora, mais do que nunca, estamos num momento de nos apropriarmos desse conhecimento e mostrar que há ciência por trás do que fazemos. Precisamos estudar, mostrar resultados e nos apropriar do que é nosso, mostrar que ao utilizar o método de Integração Sensorial temos o objetivo de impactar no desempenho das ocupações”.
Qual é o objetivo principal da terapia ocupacional?
O principal objetivo da terapia ocupacional é auxiliar as pessoas a participarem de atividades significativas em suas vidas, desde tarefas cotidianas até atividades de lazer, promovendo diversas habilidades para as pessoas, sejam elas atípicas ou não.
Inclusive, a terapia ocupacional é tão importante para o desenvolvimento pessoal, que essa é a especialidade aplicada no Sistema de Saúde Brasileiro como Atenção Primária à Saúde (APS).
Segundo o Ministério da Saúde, uma APS é o primeiro nível de atenção em saúde, sendo algo feito por diversas ações, tanto no individual quanto no coletivo, para garantir a proteção e promoção da saúde populacional completamente.
Terapeutas ocupacionais utilizam abordagens de integração sensorial para ajudar crianças e adultos a processar e responder a informações sensoriais. Isso é especialmente relevante para pessoas neurodivergentes, como aquelas no espectro autista, onde a integração sensorial pode ser um desafio.
Os principais objetivos são:
- Avaliação das necessidades individuais: cada plano de tratamento é adaptado às necessidades específicas do paciente.
- Promoção da independência e autonomia: os terapeutas ocupacionais ensinam técnicas e estratégias para os pacientes poderem realizar atividades com mais autonomia.
- Intervenções Baseadas em Evidências: utilizando práticas fundamentadas em pesquisas, os terapeutas ocupacionais implementam intervenções que são eficazes e comprovadas cientificamente.
Samara é fundadora da IS Descomplicada, uma empresa de treinamentos que acredita no poder que empoderar terapeutas com conhecimento democrático de qualidade pode transformar realidades.
Ela aponta que a Terapia Ocupacional está se preparando cada vez mais para lidar com a demanda crescente de Integração Sensorial, mas ainda há um longo caminho a percorrer.
“Os terapeutas ocupacionais saem das graduações sem a segurança de aplicar os conceitos de Integração Sensorial, necessitando de um treinamento direcionado ao uso dessa abordagem, mas muitas vezes não sabem como começar ou que caminho seguir para uma capacitação efetiva. A solução que vejo é democratizar a formação, com mais cursos acessíveis, práticos e com foco em resultados clínicos reais”.
A Terapia Ocupacional é a profissão do futuro?
Para Valeska a Terapia Ocupacional será a profissão do futuro se fizermos dela a profissão do presente.
“Precisamos fazer nosso melhor hoje, mostrar nossa necessidade nas equipes, é isso que vai fazer com que a gente construa essa profissão do futuro. Temos tudo para ser!”
Falando em TEA especificamente, ela afirma que se olharmos a demanda que temos atualmente e o crescimento do número de casos, no futuro seremos ainda mais necessários.
Já Samara, conta que por muito tempo, as formações mais aprofundadas sobre integração sensorial eram restritas às certificações internacionais e hoje, o conhecimento evoluiu, assim como a oferta de trilhas de aprendizagem alternativas para se capacitar na área.
“A T.O. sempre foi uma profissão com uma contribuição imensa na vida das pessoas que, por algum motivo, não são capazes de realizar ocupações significativas para si. Hoje a visibilidade está maior e ainda crescente, então, sim, podemos dizer que é a profissão do futuro. Quando falamos sobre intervenções para TEA, devemos esperar profissionais que atuem com ética e responsabilidade, além de basearem suas intervenções na ciência e terem uma gama de ferramentas que ultrapassem uma única abordagem.”
Fortalecendo a Terapia Ocupacional por meio da troca de conhecimento e referência clínica
A disseminação de conhecimento qualificado e acessível é um dos pilares para o avanço da Terapia Ocupacional no Brasil. Investir na formação de profissionais capacitados, especialmente em abordagens como a Integração Sensorial, é fundamental para garantir intervenções cada vez mais eficazes, éticas e baseadas em evidências, especialmente no atendimento a pessoas com TEA.
Especialistas reforçam que a capacitação contínua e a troca entre profissionais são essenciais para transformar a prática clínica e ampliar o impacto da T.O. na sociedade. A busca por formações práticas, acessíveis e com foco em resultados reais tem se tornado um movimento crescente na área.
Temas centrais para o futuro da profissão têm sido cada vez mais debatidos, como:
- O papel da Terapia Ocupacional como profissão estratégica no cenário da saúde
- Formação clínica em Integração Sensorial e seus desafios
- Ferramentas e estratégias práticas para o dia a dia do terapeuta
- A importância das intervenções fundamentadas em ciência
Nomes de referência como Teresa May-Benson, Patrícia Rodrigues, Tamyres Furtado, Alessandra Peres e Lucas Ávila se juntaram para contribuir ativamente para elevar o nível da discussão sobre práticas clínicas e formação profissional em TO.
Veja essa conversa de forma completa!
Esse movimento coletivo evidencia o compromisso com uma atuação mais sólida, visível e científica e fortalece o reconhecimento da Terapia Ocupacional como uma área em plena expansão, pronta para responder às demandas sociais com excelência.