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Você já ouviu falar sobre hiperfoco no autismo? Bastante comum em pessoas autistas, o hiperfoco acontece quando pessoas no espectro apresentam um interesse intenso, altamente focado e de difícil flexibilização em um ou mais assuntos.
O interesse pode durar a vida toda ou mudar com o tempo. Esse interesse é realmente intenso, a ponto de fazer com que a pessoa se “desligue de todo o mundo ao seu redor” e se esqueça de outras tarefas cotidianas.
É importante lembrar que o hiperfoco no autismo é diferente de ser fã de alguma coisa ou se apaixonar por um assunto, como futebol, por exemplo. O hiperfoco é algo que pode trazer sofrimento, inclusive, pois a pessoa fica “presa” na temática.
Mas o que é exatamente o hiperfoco? Como ele se manifesta e, mais importante, como auxiliar a pessoa que o possui?
Neste artigo, você vai entender melhor como funciona o hiperfoco no autismo, encontrar informações sobre como lidar no dia a dia, além de dicas práticas e estratégias para pais e profissionais de saúde. Acompanhe!
O que é hiperfoco?
Podemos definir o hiperfoco como uma forma intensa de concentração em determinado assunto, tarefa ou tópico. Ele acontece quando uma pessoa fica em absorção total em determinada atividade ou informação.
A pessoa pode desenvolver uma visão em “túnel”, de forma que, ao se ver imersa na temática, não consegue enxergar outras perspectivas nem aceitar que o assunto seja apresentado de maneira diferente daquela a que está acostumada. Há sempre uma certa rigidez associada ao hiperfoco.
Embora todos possam experimentar momentos de foco intenso, no autismo essa característica pode ser mais pronunciada e persistente.
É importante pontuar que existem diferentes formas de se gostar de algo, cada uma delas com mecanismos distintos e que mudam de acordo com o interesse de uma pessoa. Nem todas elas podem ser chamadas de hiperfoco.
Pessoas com autismo podem passar horas ou até dias imersas em um único tema, ou atividade de seu interesse.
Precisamos entender que o hiperfoco, em si, é muito mais um estado mental do que uma condição de fato, já que as habilidades de atenção estão ora em seu estado máximo, ora quase inexistentes.
Quais as características do hiperfoco?
- Intensidade e persistência: a pessoa pode passar longos períodos focada em um único tema, muitas vezes ignorando outras atividades ou necessidades básicas.
- Interesses restritos: o foco pode ser em áreas muito específicas, e muitas vezes apenas em um tema, como trens, astronomia, programação ou personagens de um desenho animado.
- Dificuldade em direcionar a atenção: pode ser desafiador para a pessoa desviar sua atenção para outras tarefas ou interesses.
Muitas vezes, pessoas cuidadoras ou a família percebem que a pessoa se desliga completamente do seu redor e tem a atenção voltada apenas para o que está sendo focado.
Os interesses são os mais variados: arte, música, jardinagem, animais, números, entre outros. Muitas crianças com autismo gostam de dinossauros ou personagens específicos de desenhos animados.
O hiperfoco no autismo
Quando falamos de hiperfoco, estamos necessariamente falando de algo relacionado a um transtorno do neurodesenvolvimento, como TEA ou TDAH, por exemplo. É preciso diferenciarmos hiperfoco de interesses específicos — pessoas atípicas também possuem interesses específicos que não são chamados de hiperfoco.
Falar de hiperfoco no autismo é falar sobre uma espécie de “fascínio” ou “fixação momentânea” por determinado assunto, de forma rígida. É um interesse tão grande em algo que as coisas acontecendo ao redor não importam.
Nesse aspecto, até mesmo pausas para comer, tomar banho ou realizar outras atividades da vida diária podem ser esquecidas pelas pessoas com TEA, já que essas atividades geram um afastamento do assunto de interesse.
É assim que o hiperfoco no autismo se difere de um interesse comum, por exemplo, já que pessoas neurotípicas apresentam maior facilidade em se desligar de um tema momentaneamente e depois retornar ao estado anterior.
Além disso, quando falamos em um interesse e não em hiperfoco, há maior flexibilidade quanto a como essa temática é vivida e apresentada.
Para além da dificuldade de entrar em contato com a temática de forma diferente — o que pode impactar na troca social —, as dificuldades de comunicação e de interação social, comuns em pessoas autistas, podem transformar o hiperfoco em um fator de isolamento.
Estar imerso em um tema específico pode parecer mais confortável e seguro do que se envolver em trocas sociais, que costumam exigir habilidades interpessoais mais complexas.
Como resultado, pode ser mais difícil para crianças no espectro abrirem mão daquele hiperfoco para se relacionarem com os outros, preferindo brincar sozinhas.
Como trabalhar o hiperfoco no autismo?
Por, em geral, levar a um maior isolamento e envolver dificuldades em compartilhar a temática com outras pessoas, o hiperfoco não deve ser utilizado como ferramenta central de ensino. Isso pode gerar sobrecarga e aumentar a irritabilidade da criança.
Além disso, considerando que o autismo envolve déficits na área social, o uso do hiperfoco de forma indiscriminada pode acabar sendo mais excludente do que integrador — funcionando como barreira, e não como ponte para as relações.
O foco da intervenção deve estar na flexibilização cognitiva e no desenvolvimento de novos interesses, o que pode, inclusive, possibilitar que a própria temática do hiperfoco venha a ser compartilhada de maneira mais adaptativa com o mundo.
4 estratégias que ajudam a trabalhar o hiperfoco no autismo
Para isso, é importante considerar alguns pontos:
Clareza sobre o tempo dedicado ao hiperfoco
A criança precisa saber em quais momentos do dia poderá entrar em contato com seu hiperfoco. Esse momento deve ser respeitado como um espaço próprio, no qual ela possa vivenciá-lo da forma que desejar — falando, ficando sozinha ou apenas explorando silenciosamente.
Apresentação de novos interesses relacionados
É possível ampliar o repertório de maneira conectada ao hiperfoco. Por exemplo, uma criança com hiperfoco em dinossauros pode ser estimulada a brincar com outros animais, ampliando gradualmente seu campo de interesse.
Trabalho com rigidez cognitiva
A melhor forma de abordar a rigidez é por meio de recursos visuais que ofereçam previsibilidade: o que vai acontecer, o que pode ser feito se algo sair diferente do esperado, e suportes que facilitem a comunicação, caso a criança precise expressar desconfortos ou dúvidas.
Desenvolvimento da regulação emocional
Para que a criança consiga flexibilizar e compartilhar seu hiperfoco, é essencial que ela desenvolva recursos de autorregulação, como a tolerância à frustração. Isso porque, muitas vezes, o tema do hiperfoco será vivido de forma diferente pelas outras pessoas, e ela precisará lidar com essas variações sem se desorganizar emocionalmente.
Quais os impactos do hiperfoco no autismo?
Muitas vezes, o hiperfoco pode criar complicações para pessoas no espectro, afetando seu bem-estar e capacidade de aprender. Por isso, pessoas cuidadoras e as famílias precisam ficar atentas a esses comportamentos.
- Esse comportamento está deixando a pessoa com TEA infeliz? Ela tem dificuldade de parar?
- Esses momentos estão causando situações desafiadoras com outras pessoas, como irmãos ou amigos?
- O hiperfoco está minando a capacidade da pessoa de aprender, tirando a concentração em momentos de ensino, como na escola?
- Isso está limitando a habilidade de conhecer novas pessoas ou assuntos?
Essas são algumas perguntas que podem ajudar a família a analisar a situação, procurando um especialista para conversar sobre o assunto e expor as preocupações. Assim, é possível investigar melhor o comportamento e encontrar as estratégias corretas para ajudar.
Esse é o momento para buscar informações e pessoas que vão ajudar, encontrando maneiras de aumentar a qualidade de vida da pessoa com TEA.
Conclusão
O hiperfoco no autismo é uma característica complexa que deve ser compreendida e trabalhada de maneira eficaz.
É importante lembrar que, para autistas, pode ser desafiador se conectar com outras pessoas a partir do seu hiperfoco — ou até mesmo sem falar dele.
Por isso, é essencial sempre entender como o hiperfoco funciona e como a equipe terapêutica pode atuar para auxiliar na expansão de interesses, flexibilização cognitiva e regulação emocional, evitando assim que o hiperfoco gera crises e sobrecargas.
Pais e profissionais de saúde devem adotar uma abordagem equilibrada, que valorize os interesses da pessoa enquanto promove habilidades sociais, equilíbrio e bem-estar geral.
Aqui na Genial Care, trabalhamos com práticas baseadas em evidências que auxiliam na expansão de repertório e na flexibilização. Com as estratégias adequadas, é possível desenvolver o potencial de cada pessoa.
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14 respostas para “Hiperfoco no autismo: o que é, e como trabalhá-lo?”
Oi tudo bem? Me chamo Cristiani, sou estudante em pedagogia e estou estagiando em uma escola, e cuido de menino de 8 anos, ele já tem um diagnóstico de TEA, pra mim tem sido um desafio porque quero muito está entendendo como lidar com ele. Ele é nível 3 de suporte, não verbal, bem agressivo quando contrariado. Não consigo mantê-lo em sala de aula como me pediram, ele anda toda escola. Poderiam me dar algumas sugestões de como tentar inseri-lo na sala de aula, sentar na hora do lanche, ele só alimenta andando, isso me deixa muito temerosa; ele ama contar, e fala bem pouquinho
mas fala o alfabeto, ama cores, tinta guache ele é apaixonado.
Olá, Cristiani. Como vai? Esperamos que muito bem;
Que lindo seu trabalho e sua dedicação em entender e apoiar esse menino. É totalmente compreensível sua preocupação, especialmente por ele ser nível 3 de suporte e não verbal. É um desafio e tanto, mas com paciência e estratégias, vocês podem avançar!
Sugestões para o dia a dia:
— Rotina Visual: crie um quadro de rotina com imagens para cada atividade (sentar para o lanche, ir para a sala, hora da tinta). A previsibilidade ajuda muito!
— Interesses como ponte: use o amor por contar, o alfabeto e as cores para aproximá-lo. Que tal começar a aula com uma atividade de contagem ou um jogo de cores para engajá-lo?
— Ambiente adaptado na sala: se ele gosta de tinta guache, separe um cantinho na sala com materiais de arte para ele. Você pode começar oferecendo essa atividade nesse espaço para tentar mantê-lo por mais tempo.
— Lanche com apoio visual: para o lanche, experimente usar um cronômetro visual para mostrar o tempo que ele terá para comer sentado, ou ofereça uma pequena quantidade de comida em um prato e, quando ele terminar, ele pode ir andar, mas sempre voltando ao ponto inicial.
— Reforço Positivo: Comemore cada pequena conquista! Um sorriso, um “muito bem!” quando ele fizer algo que vocês solicitaram (mesmo que por pouco tempo) faz uma grande diferença.
— Comunicação com a equipe: compartilhe suas observações com a equipe pedagógica e a família. Eles podem ter informações valiosas e apoiar as estratégias.
Lembre-se, cada passo, por menor que seja, é uma vitória. Você já está fazendo um trabalho incrível ao buscar entender e ajudar!
Esperamos ter ajudado.
Abraços.
O meu filho é apaixonado por trens ele tem 4 anos é muito difícil, tem dia que é o maior sacrifício para cuidar dele, para ir para a escola, e até mesmo deixar o irmão dele assistir na tv também, porque ele não aceita que mude, fica muito estressado e chora bastante as vezes fico sem saber o que fazer porque quando ele está com crises de choro não mim escuta, ele já tem o laudo de TEA
Olá, Carline. Como vai? Esperamos que muito bem.
Entendemos perfeitamente como essa situação pode ser desafiadora. O apego intenso a um tema, como trens, e a dificuldade com mudanças são características comuns no TEA. Para lidar com a ida à escola e o uso da TV, você pode tentar algumas estratégias visuais, como um cronograma com as atividades do dia, incluindo o momento de brincar com trens e o tempo de TV do irmão. Antecipar as mudanças e usar histórias sociais sobre a escola e compartilhar a TV também podem ajudar a diminuir a ansiedade e o choro. Durante as crises, tente manter a calma e oferecer um ambiente seguro e tranquilo para ele se acalmar. Buscar orientação de terapeutas ocupacionais e comportamentais especializados em TEA pode fornecer estratégias personalizadas e eficazes para o seu filho e para a sua família.
O importante é usar o Hiperfoco do seu filho a seu favor.
Aproveitando, gostaríamos de convidá-la a conhecer mais sobre nosso serviço:
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Esperamos ter ajudado.
Abraço.
Meu bebê de 2 anos foi diagnosticado por autismo não verbal,e ele tem hiperfoco em carrinhos e caminhões de brinquedo não posso sair com ele ,pois se ele vê alguma criança com carrinho ele fica querendo aquele carrinho chora se joga por isso parei de sai d casa.
Olá, Loana. Como vai? Esperamos que muito bem.
Loana, é importante usar o hiperfoco do seu filho a seu favor, preparando-o para as saídas com seus próprios brinquedos e buscando distrações em público. Consultar profissionais e participar de grupos de apoio pode oferecer estratégias personalizadas e suporte emocional. Começar com saídas curtas e reforçar comportamentos positivos são passos importantes para tornar os passeios mais tranquilos.
Esperamos ter ajudado.
Abraço.
Meu aluno de 2 anos está sob investigação e não tem laudo pela idade! O TEA é evidente nele e tem hiperfoco em bola
Olá, Norma. Como vai? Esperamos que muito bem.
Norma, a ausência de laudo em investigação para TEA aos 2 anos não impede intervenções pedagógicas sensíveis às necessidades evidentes, como o hiperfoco em bola. Utilize esse interesse como estratégia de ensino e interação, adaptando atividades e materiais.
Existem testes online que ajudam a dar um rumo nessa investigação.
A Escala M-chat é um teste com comprovação científica.
https://genialcare.com.br/blog/m-chat-escala-de-rastreio-autismo-de-bebes/
Vale reforçar que o teste não é o diagnóstico e sim um meio de entender como proceder nas investigações posteriormente.
Esperamos ter ajudado.
Abraço.
Meu aluno autista so fala de Pokémon não sei o que fazer ele conhece as letras e números mas não escreve
Olá, Lu. Como vai? Esperamos que muito bem.
Lu, seu aluno tem hiperfoco no desenho Pokémon e isso pode ser usado como suporte para desenvolver a escrita.
Recomendamos que tente usar o hiperfoco dele a seu favor. Ensine a escrever o nome de alguns dos Pokémons que ele mais gosta, associe letras a Pokémons como: P = Pikachu.
Esperamos ter ajudado.
Abraço.
Como trabalhar com uma criança com hiperfoco em eletrodomésticos, como por exemplo: liquidificador, ventilador, maquita, marcas de carro etc!
Olá, Regina. Como vai? Esperamos que muito bem.
Regina, aconselhamos usar o hiperfoco em favor do desenvolvimento da criança com TEA.
Use o interesse por máquinas junto a reforçamentos positivos. Por exemplo:
Elogie, questione para que a criança consigo gerar respostas positivas sobre seu interesse, reforce o gosto dela para momentos em que você precise acalmá-la. Entre outras estratégias.
É importante entendermos o hiperfoco como um desenvolvimento de conhecimento e habilidades extraordinárias que a criança tem e gosta.
Abraços.
Excelente definição do hiperfoco
Olá, Lucenilda. Como vai? Esperamos que muito bem!
É muito legal saber que nosso conteúdo te ajudou em algo. Agradecemos o elogio.
Abraço!