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Crianças lendo livro juntas. A atenção compartilhada ao assunto é evidente, uma vez que elas estão atentas as figuras.

O que é a atenção compartilhada no autismo? Conheça essa estratégia ABA e saiba como incentivá-la.

Esse conteúdo passou por revisão clínica de Alice Tufolo, Psicóloga e Conselheira clínica da Genial Care | CRP 06124238


Você sabe o que é atenção compartilhada? Assim como o nome já diz, ela acontece quando duas pessoas compartilham a atenção para um mesmo objeto ou uma mesma conversa, por exemplo. Essa atenção pode ocorrer por meio de palavras, olhares, gestos ou quando alguém aponta ou indica algo.

A atenção compartilhada contribui para a comunicação e a aprendizagem. É por meio dela que a criança consegue desenvolver suas habilidades cognitivas e de interação com o mundo.

No entanto, algumas pessoas autistas podem apresentar dificuldades ao tentarem se comunicar dessa forma. Por isso, neste artigo, vamos falar sobre a atenção compartilhada e a importância de estimulá-la em pessoas com TEA.

O que é atenção compartilhada?

A atenção compartilhada (AC) é definida como a habilidade de coordenar a atenção entre duas pessoas em relação a uma terceira direção — objeto e/ou pessoas — com o propósito de compartilhar uma experiência em comum.

Alguns estudos destacam que a AC tende a surgir, de forma mais clara, entre os 9 e 14 meses de idade, estabilizando-se por volta dos 18 meses. Entretanto, esse período pode variar de acordo com:

  • O nível de desenvolvimento social, comunicativo e cognitivo da criança;
  • O nível de maturação neurobiológica infantil;
  • A qualidade da interação cuidador-criança;
  • Os aspectos culturais.

A intencionalidade da criança é o núcleo da habilidade de AC, expressa inicialmente por meio de gestos como:

  • Apontar;
  • Mostrar e dar objetos;
  • Alternar olhares entre objetos e a face de outra pessoa.

É importante lembrar que esses gestos podem ter outros objetivos, como um pedido de ajuda, e devem ser diferenciados da AC.

Por exemplo, pedir para a mãe pegar um copo é diferente de apontar, olhar, balançar a cabeça ou focar em um objeto visando compartilhar atenção, como ao apontar para um cachorro à distância para mostrar interesse.

Quais as fases da atenção compartilhada?

A atenção compartilhada se desenvolve em etapas, que representam diferentes formas de engajamento da criança com o mundo ao seu redor e com outras pessoas. Esses estágios não seguem uma ordem rígida e podem variar conforme o desenvolvimento individual, mas ajudam a compreender como a criança aprende a se conectar socialmente.

Com base em estudos sobre desenvolvimento infantil e neurociência social (Jording et al., 2018; Stephenson et al., 2021), podemos entender a atenção compartilhada como um processo composto por diferentes estados de atenção:

  • Atenção orientada ao parceiro (Partner-Oriented): a criança foca sua atenção em outra pessoa, estabelecendo contato visual, observando expressões faciais ou reagindo à presença do outro, mesmo sem interagir com objetos externos. É uma base importante para a construção de vínculos sociais.
  • Atenção orientada ao objeto (Object-Oriented): o foco está em um objeto ou evento do ambiente, sem engajamento social direto. Embora pareça um comportamento isolado, essa forma de atenção é essencial para que a criança aprenda a explorar e compreender o mundo.
  • Atenção compartilhada (Joint Attention): aqui, ocorre a verdadeira coordenação triádica — a criança alterna seu olhar entre a pessoa e o objeto, ou aponta para algo com a intenção de compartilhar uma experiência. Esse estágio pode ser dividido em:
  • Resposta à atenção compartilhada (Responding to Joint Attention – RJA): quando a criança segue o olhar ou o gesto do outro.
  • Iniciação da atenção compartilhada (Initiating Joint Attention – IJA): quando a própria criança tenta chamar a atenção do outro para algo, demonstrando intenção comunicativa.

Atenção compartilhada no autismo

Dificuldades na atenção compartilhada podem impactar o desenvolvimento das habilidades sociais de crianças com autismo, especialmente no que diz respeito à formação de vínculos e à interação com familiares, colegas e outras pessoas ao redor.

Geralmente, quem percebe a dificuldade da criança são os pais e/ou cuidadores, que notam nas interações do dia a dia. Por exemplo: a criança com autismo pode apresentar menor engajamento em brincadeiras que envolvem troca social ou ter dificuldade em solicitar a participação de outra pessoa durante uma atividade com brinquedos.

Outro aspecto observado com frequência é que algumas crianças com TEA podem não utilizar gestos como estender os braços para pedir colo ou demonstrar interesse conjunto por um livro, seja ao ouvir uma leitura ou ao manuseá-lo sozinhas.

O desenvolvimento da atenção compartilhada requer experiências sociais significativas, contato visual, e a possibilidade de vivenciar e compartilhar emoções e interesses com outras pessoas. Crianças com Transtorno do Espectro do Autismo podem se beneficiar de apoio especializado para ampliar essas competências de forma individualizada e respeitosa.

A atenção compartilhada dentro das intervenções ABA

A Análise do Comportamento Aplicada (ABA) é uma ciência da aprendizagem que, quando utilizada como base para o atendimento de pessoas com transtornos do desenvolvimento — como o TEA —, foca no ensino de novas habilidades e na gestão de comportamentos desafiadores.

Antes de iniciar essa intervenção com a criança com TEA, é realizada uma avaliação individual para definir as melhores técnicas e estratégias, tudo isso com base nas singularidades de cada criança.

Dentro da ABA no autismo, os profissionais podem intervir:

  • No ensino de habilidades socialmente relevantes;
  • Na promoção da generalização dessas habilidades, ou seja, garantir que possam ser utilizadas de maneira funcional em múltiplos contextos do cotidiano da criança.

Sempre com o foco em estabelecer objetivos comportamentais, que são definidos antes (ou durante) a intervenção, para acompanhar a evolução da criança autista.

O tratamento do autismo é multidisciplinar, e os profissionais que normalmente compõem a equipe são:

  • Psicólogos;
  • Fonoaudiólogos;
  • Terapeutas ocupacionais;
  • Pedagogos;
  • Fisioterapeutas;
  • Educadores físicos.

A configuração dessa equipe pode variar conforme as necessidades de aprendizagem de cada pessoa.

A atenção compartilhada, por ser uma habilidade social central no desenvolvimento infantil, pode ser promovida por diferentes profissionais, não apenas em intervenções baseadas em ABA, mas também em contextos educacionais, terapêuticos e familiares.

Psicólogos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e outros especialistas, quando atuam de forma integrada e com base em práticas validadas, podem utilizar estratégias para incentivar o engajamento social, o uso funcional do olhar e a coordenação de atenção entre pessoas e objetos, aspectos essenciais da atenção compartilhada.

Embora a ABA seja amplamente empregada em intervenções com crianças com TEA, seus princípios também são eficazes para apoiar o desenvolvimento de habilidades como a atenção compartilhada em outras populações.

É importante lembrar que a terapia ABA não é exclusiva para o autismo.

Como trabalhar a atenção compartilhada?

Como falamos acima, a atenção compartilhada pode (e deve) ser incentivada durante as intervenções realizadas por profissionais.

No entanto, ela também pode ser promovida no cotidiano, especialmente por meio de interações significativas com a família e outros cuidadores. Momentos simples e afetivos podem se tornar oportunidades valiosas para estimular essa habilidade, como:

  • Brincar;
  • Ler ou contar histórias;
  • Dançar;
  • Cozinhar;
  • Ajudar a limpar a casa;
  • Organizar os brinquedos;
  • E outras atividades que envolvam interação, cooperação e troca de atenção.

Uma forma eficaz de estimular a atenção compartilhada é partir dos interesses da própria criança. Se ela gosta de fazer caretas, entre na brincadeira. Se demonstra entusiasmo por determinado personagem, imite a voz ou os gestos desse personagem. Se adora música, cante com ela suas canções favoritas.

Brincadeiras que envolvem turnos, como jogos de “minha vez, sua vez”, são especialmente valiosas para desenvolver a alternância de atenção e o engajamento mútuo, componentes fundamentais da atenção compartilhada (Stephenson et al., 2021; Faria, 2008).

O mais importante é que todas as interações partam da motivação da criança. Quando a atividade está conectada aos seus interesses, é mais provável que ela se envolva de forma espontânea e prazerosa, favorecendo o desenvolvimento da atenção compartilhada de maneira respeitosa e natural.

Conclusão

Desenvolver a atenção compartilhada pode parecer um desafio — especialmente para famílias que estão no começo da jornada com o autismo — mas é também uma oportunidade poderosa de conexão, aprendizado e afeto.

Com o apoio de uma equipe multidisciplinar e pequenas práticas no dia a dia, como as brincadeiras em família, é possível favorecer o desenvolvimento dessa habilidade de forma respeitosa, sensível às singularidades da criança e ancorada em seus interesses.

Lembre-se: cada avanço, por menor que pareça, é um passo importante no desenvolvimento. E você não está sozinho nesse processo.

Profissionais capacitados, que compreendem o desenvolvimento infantil e as particularidades do TEA, podem caminhar ao seu lado, construindo juntos uma trajetória de evolução, vínculo e inclusão.

Em nosso blog falamos sobre outras práticas baseadas em evidências que auxiliam o desenvolvimento das crianças autistas. Saiba mais sobre elas clicando no botão abaixo:

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