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A vídeomodelação é uma prática baseada em evidências (PBE) e é uma técnica de ensino que utiliza vídeos para demonstrar comportamentos ou habilidades específicas. No contexto do ensino para pessoas autistas, a video modelação pode ser uma ferramenta eficaz para ensinar uma variedade de habilidades sociais, comunicativas e funcionais. Neste texto vamos falar mais sobre a vídeo modelação e sua função no desenvolvimento de pessoas autistas.
Práticas baseadas em evidências científicas
Como já falamos aqui no blog, o termo Práticas Baseadas em Evidências (PBEs) é usado para determinar um conjunto de procedimentos para os quais os pesquisadores forneceram um nível aceitável de pesquisa que mostra que a prática produz resultados positivos para pessoas com TEA, sejam crianças, jovens e/ou adultos.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a prática baseada em evidências é recomendada para pessoas com desenvolvimento atípico, especialmente autistas. Você pode conhecer a lista de intervenções indicadas neste texto.
O que é vídeomodelação?
A vídeomodelação é uma prática que utiliza recursos visuais gravados em vídeo para demonstrar comportamentos, habilidades e situações do dia a dia.
Esses vídeos capturam passo a passo as ações desejadas, permitindo que sejam transmitidos e revisados através de dispositivos eletrônicos como celulares, tablets ou computadores.
Os benefícios dessa prática são diversos. Ela fortalece o aprendizado ao oferecer uma representação visual clara e repetível dos comportamentos desejados.
Além disso, integra-se naturalmente ao cenário tecnológico atual, potencializando o engajamento de crianças que estão familiarizadas com dispositivos eletrônicos.
Profissionais de diversas áreas, como terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, pedagogos e educadores físicos, podem aplicar a vídeomodelação para ensinar uma variedade de habilidades, desde habilidades sociais até atividades de vida diária.
Mas lembre-se: embora a vídeomodelação seja uma prática amplamente utilizada por profissionais especializados em autismo, é fundamental ressaltar a importância de adaptar as estratégias de ensino às necessidades individuais de cada criança.
Benefícios do uso da Vídeomodelação
De acordo com Duarte, Silva e Veloso (2018), as vantagens na utilização de vídeomodelação têm sido apontadas para aprendizes com TEA. São elas:
- A vídeomodelação não requer, necessariamente, a interação social durante a aprendizagem, portanto pode reduzir a ansiedade relacionada às interações sociais, permitindo que o indivíduo se atente aos estímulos e dicas relevantes àquela habilidade.
- Permite isolar e destacar características importantes do comportamento e minimizar aspectos distratores ou irrelevantes;
- Viabiliza a apresentação de uma variedade de exemplos;
- Possibilita a repetição exata do modelo e a reapresentação do vídeo.
- Vários alunos podem se beneficiar simultaneamente ao assistir o mesmo vídeo quando apresentado em contexto de grupo.
- Vídeos tendem a ser altamente motivadores para uma grande parte de pessoas com TEA.
Quem pode se beneficiar da intervenção por vídeomodelação?
Embora a video modelação ofereça muitos benefícios, é importante reconhecer que pode não ser indicada para todos os indivíduos ou em todas as situações. Por exemplo, algumas pessoas podem ser mais sensíveis a estímulos visuais, como dificuldades em olhar para cores muito intensas, acompanhar o movimento da tela e mesmo a luminosidade. Neste exemplo, a videomodelação pode causar sobrecarga sensorial e causar desorganização. Dessa forma, alguns aprendizes podem não responder bem à abordagem com recursos visuais, sendo preferível, nestes casos, outros métodos de ensino, como utilizar o ritmo, sons, músicas, etc.
A literatura está caminhando para compreender quais habilidades devem estar presentes para que a videomodelação seja mais efetiva para a aprendizagem, mas Duarte, Silva e Velloso (2018) sugerem que déficits nas habilidades de atenção ao modelo e imitação podem ocasionar falhas na intervenção por vídeomodelação.
Portanto, ao implementar a vídeo modelação, é importante considerar as necessidades individuais do aprendiz e avaliar se essa abordagem é a mais adequada para promover seu desenvolvimento e aprendizado.
Como produzir o material para a videomodelação?
Como dito anteriormente, é importante primeiro avaliar se o aluno tem pré-requisitos para uma aprendizagem por vídeomodelação. Após identificar se o aluno se beneficiaria dessa intervenção, é importante ter clareza de qual a resposta ou cadeia de resposta desejamos ensinar. Após a definição de qual resposta ensinaremos através da vídeomodelação, partiremos para os cuidados da gravação do vídeo:
- Atente-se para uma boa resolução de imagem;
- Cuidado com o barulho e o som do vídeo, garantindo que apenas os estímulos sonoros necessários e desejáveis estejam no vídeo;
- Prepare um roteiro do que precisa estar no vídeo com o planejamento do ambiente e das respostas do modelo que será dado.
Como apresentar a videomodelação?
Apresentar a videomodelação de forma eficaz é fundamental para maximizar os benefícios dessa prática no ensino de habilidades. Aqui estão algumas dicas e passos para uma apresentação bem-sucedida da videomodelação:
- Planeje cuidadosamente como integrar esse recurso na rotina do aluno ou na sessão de intervenção.
- Durante a apresentação do vídeo, é importante adotar estratégias para manter a atenção do aprendiz no vídeo (como sinalizar ou fornecer ajuda conforme necessário).
- Podemos também utilizar itens reforçadores para aumentar o engajamento e a motivação durante a exibição do vídeo.
- O vídeo pode ser reapresentado quantas vezes forem necessárias e adequadas para o aprendiz e isso pode variar de acordo com o planejamento da aprendizagem de cada um.
- A decisão de quando emitir o comportamento-alvo pode variar, podendo ser solicitada imediatamente após a exibição do vídeo ou em um momento posterior, dependendo da natureza da resposta que está sendo ensinada.
- Após a visualização do vídeo, qualquer tentativa de imitação do comportamento-alvo ou aproximação deve ser prontamente reforçada (com elogios, fichas ou reforçadores tangíveis previamente avaliados).
- Caso o aluno não emita as respostas-alvo esperadas, podemos fornecer ajudas ou correções imediatamente durante ou após a exibição do vídeo, conforme o planejado, para garantir o entendimento e a aprendizagem adequada do conteúdo.
Mensure e registre as respostas do aprendiz diante das oportunidades dadas e fique atento caso não seja possível observar evolução na aprendizagem após algumas sessões. Caso isso aconteça, reflita sobre:
- qualidade do vídeo (do áudio e da imagem);
- a duração do vídeo (ele está muito longo? Qual a quantidade de respostas presentes no vídeo? Será que essa quantidade é a ideal para esse aluno?);
- a frequência com que ele está sendo apresentado;
- se o aluno está se atentando a apresentação do modelo do vídeo;
- se as tentativas de resposta do aluno estão sendo reforçadas;
Conclusão
A videomodelação é um exemplo de como a tecnologia pode ser uma aliada valiosa na promoção do desenvolvimento de habilidades e competências essenciais para pessoas autistas, representando um passo significativo em direção a uma abordagem mais inclusiva. Aprender novos comportamentos através da observação de outros pode proporcionar uma aprendizagem mais rápida e facilitar a generalização das habilidades adquiridas.
No entanto, indivíduos com TEA frequentemente apresentam dificuldades em aprender por meio de modelos e, portanto, é necessário identificar quais as habilidades precisam estar presentes no aluno para que a videomodelação seja mais efetiva. Identifique se seu aluno se beneficiará dessa estratégia e garanta a produção de um material de qualidade!
Para conhecer mais sobre à intervenção do autismo, acesse nosso conteúdo sobre Carga horária ideal para o atendimento do TEA.