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O reforçamento positivo é uma estratégia usada para o aprendizado das pessoas – sejam elas autistas ou neurotípicas. Trata-se de um processo em que a consequência de um comportamento aumenta a probabilidade de ele ocorrer novamente no futuro.
Por causa do próprio nome, o reforço positivo frequentemente é considerado algo “bom”, enquanto o reforço negativo é visto como algo “ruim”.
Mas essa é uma interpretação equivocada:os termos positivo e negativo referem-se à adição ou retirada de estímulos no ambiente, e não a um julgamento de valor. Compreender como itens, atividades e interações podem funcionar como reforçadores é fundamental tanto para o ensino de habilidades quanto para o manejo de comportamentos no autismo.
Neste artigo, explicamos o que é reforçamento positivo, quais são os tipos de reforçadores e como utilizá-los de forma eficaz e respeitosa.
O que são reforçadores?
Chamamos de reforçadores todas as consequências de um comportamento que aumentam as chances de ele voltar a ocorrer no futuro. Eles podem ser itens, objetos, interações ou atividades que acontecem como consequência de uma resposta — e são específicos para cada indivíduo.
Ou seja, o que é reforçador para uma pessoa pode não ter o mesmo efeito para outra.
Como já aprendemos, todo comportamento — seja ele desafiador ou não — pode ser analisado pelo modelo ABC, da sigla em inglês para Antecedent (Antecedente) → Behavior (Comportamento) → Consequence (Consequência). Segundo esse modelo, é necessário observar o que acontece antes e após uma ação para entender por que ela se mantém.
Muitas vezes, mesmo sem intenção, as pessoas ao redor podem reagir a certos comportamentos de forma que os reforcem, aumentando a chance de que ocorram novamente no futuro.
Por exemplo, imagine que a criança começa a chorar e atirar objetos pelo quarto toda vez que está brincando com o tablet e a mãe pega o objeto para trabalhar.
Se, para fazer com que o comportamento de chorar pare imediatamente, a mãe devolve o tablet e tenta fazer as atividades pelo computador, isso pode ser reforçador.
Ou seja, pode aumentar a chance de a criança voltar a chorar todas às vezes que quiser e não tiver acesso ao seu tablet.
Assim, temos:
A → O adulto retira o tablet B → A criança chora e atira objetos C → O adulto devolve o tablet
Neste caso, o aparelho eletrônico está servindo como um objeto de reforço para que o comportamento ocorra.
O que é reforçamento positivo?
Ao contrário do que muitos pensam, reforçamento positivo não é sinônimo de algo “bom”, assim como o reforço negativo não é algo “ruim”. Nesse contexto, os termos positivo e negativo se referem à introdução ou retirada de estímulos no ambiente — e não a julgamentos de valor.
Exemplo prático de reforçamento positivo::
- Se uma criança está com sede e diz “eu quero água”, e alguém entrega um copo de água em seguida, temos a apresentação de um estímulo (água) que aumenta a probabilidade de a criança repetir esse comportamento no futuro.
Já no reforçamento negativo:
- Imagine que está chovendo, e ao abrir um guarda-chuva você evita se molhar. Essa ação remove um estímulo aversivo (a chuva), aumentando a probabilidade de repetir esse comportamento em situações semelhantes.
Compreender essa diferença é importante para não confundir reforço positivo com recompensa e reforço negativo com punição. Apertar o botão do elevador e ele chegar ao seu andar é um reforço positivo, mas nem sempre isso será algo recompensador ou prazeroso, certo?
Quais são os tipos de reforçadores?
Os reforçadores podem ser primários (incondicionados) ou condicionados (secundários).
- Reforçadores primários (incondicionado): são estímulos que naturalmente aumentam a probabilidade de um comportamento, sem que haja necessidade de aprendizagem prévia. Estão ligados a necessidades biológicas básicas, como alimentação, hidratação e conforto físico. Por exemplo, todos precisamos de comida, mas nem todos gostam de feijoada. A comida, de forma geral, é um reforçador primário; já a feijoada é um gosto pessoal aprendido ao longo da vida.
- Reforçadores secundários (condicionados): por sua vez, são estímulos que se tornam reforçadores ao longo do tempo, a partir de associações com outros estímulos reforçadores. São aprendidos com base na experiência individual e variam de pessoa para pessoa. Nesse grupo, podemos identificar algumas categorias práticas, que auxiliam na organização e no uso no contexto educacional e clínico:
- Reforçadores sociais: são os que resultam da nossa relação com outras pessoas, como atenção, abraços, elogios etc.
- Reforçadores tangíveis: incluem objetos ou itens físicos que funcionam como reforçadores. Por exemplo, receber um brinquedo favorito ou um livro após realizar uma atividade.
- Reforçadores generalizados: fornecem acesso a outros reforçadores. Os principais exemplos são fichas e dinheiro — ou seja, reforçadores que podem ser trocados por outras coisas que também funcionam como reforçadores. Exemplo: você ganha dinheiro e compra um celular. O dinheiro é o reforçador generalizado; o celular, o tangível.
- Atividades reforçadoras: incluem ações como andar de bicicleta, assistir à televisão, brincar com colegas ou ler um livro. Algumas atividades têm consequências naturais que funcionam como reforço. Por exemplo: você quer sair (antecedente), aperta o botão do elevador (comportamento) e o elevador chega (consequência reforçadora). Isso aumenta a probabilidade de você repetir esse comportamento. Outro exemplo: lavar as mãos e sentir que estão limpas e cheirosas pode ser um reforço para repetir o hábito.
Para que o reforçamento positivo é usado?
Nas intervenções, o reforçamento positivo pode ser usado principalmente para ensinar novas habilidades e fortalecer comportamentos desejados. Eles são essenciais para manter a pessoa engajada e motivada em uma atividade, por exemplo. Por isso, é importante observar o comportamento e entender o que será reforçador para aquele indivíduo.
Para identificar e utilizar reforçadores no ensino de comportamentos e habilidades, é importante seguir alguns passos:
Passo 1: Escolha quais habilidades você deseja ensinar.
Essas habilidades podem envolver desde compreender combinados e instruções até desenvolver autonomia no dia a dia, como se vestir pela manhã antes da escola. É importante avaliar se a habilidade é compatível com o repertório atual da pessoa, para evitar frustrações.
Se a atividade for complexa, divida em etapas menores e ensine gradualmente, promovendo avanços consistentes.
Passo 2: Defina com que frequência os reforçadores serão usados.
No início do ensino de uma nova habilidade, recomenda-se utilizar reforço contínuo, ou seja, disponibilizar o reforçador toda vez que o comportamento desejado ocorrer.
Depois que o comportamento estiver fortalecido, é possível utilizar reforçamento intermitente — reforçando apenas em algumas ocasiões. Isso ajuda a manter o comportamento mesmo na ausência constante do reforço.
Passo 3: Apresente o reforçador imediatamente após o comportamento.
Quanto mais rápido o reforço for apresentado, mais clara será a relação entre a ação e a consequência.
Reforçar imediatamente funciona como um “contrato de confiança”: a pessoa emite o comportamento e, em seguida, recebe uma consequência positiva esperada.
Passo 4: Preserve o valor dos reforçadores.
Se a criança tiver acesso livre e ilimitado a um reforçador fora dos momentos de aprendizado, ele pode perder valor. Por isso, é essencial preservar seu valor simbólico. Se o reforçador deixar de funcionar, é hora de encontrar novos.
Passo 5: Associe reforços sociais a outros reforçadores
Combinar reforços materiais ou atividades com elogios e interações positivas ajuda a fortalecer o vínculo e a tornar o aprendizado mais natural.
Por exemplo: “Você fez um ótimo trabalho organizando seus brinquedos. Parabéns!” — dito ao mesmo tempo, em que a criança acessa uma atividade que aprecia.
Passo 6: Utilize apoios visuais sempre que possível.
Pessoas no espectro do autismo podem apresentar dificuldades de aprendizado. O uso de suportes visuais ajuda a quebrar essas barreiras. Sempre que possível, mostre o passo a passo da atividade/comportamento esperado e o reforço que será dado após sua emissão.
Conclusão
Ensinar uma nova habilidade pode ser desafiador, mas também cheio de descobertas. O reforçamento positivo, quando usado com atenção e afeto, transforma pequenos avanços em grandes conquistas, tanto para a criança quanto para quem a acompanha.
Cada reforço bem aplicado contribui para o desenvolvimento da autonomia, da comunicação e da qualidade nas interações diárias. E a boa notícia é: você não precisa fazer isso sozinho. Com apoio clínico e estratégias baseadas em evidências, o aprendizado se torna possível.
Lembre-se: o uso de reforçadores, assim como outras estratégias da ABA (Análise do Comportamento Aplicada), deve ser orientado por profissionais clínicos que já acompanham a pessoa, respeitam seu ritmo e atuam de forma ética e individualizada.
Para continuar aprendendo sobre ABA, leia nosso blog.
Uma resposta para “Reforçamento positivo: entenda o que é e como os reforçadores são usados para ensinar pessoas com autismo”
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