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O atraso no desenvolvimento da fala e da comunicação é algo frequente em crianças com autismo. E esse pode ser um sinal de alerta para pais e pessoas cuidadoras de que uma criança está dentro do espectro.
Por esse e outros motivos, a avaliação e intervenção fonoaudiológica nestes casos é muito importante. Pois existem diversas causas relacionadas ao atraso de fala, e uma delas é a mastigação.
Quando a mastigação está alterada ou ela não é efetiva, outras funções orais provavelmente também estarão, como, por exemplo, a fala. E esta pode ser uma condição comum em crianças com algum tipo de restrição alimentar, queixa frequente nos quadros de desenvolvimento atípico, especialmente no TEA.
Interessante, não é? Então vamos juntos entender a relação entre a fala, a mastigação e a terapia fonoaudiológica? Continue aqui comigo!
Qual o papel da mastigação no desenvolvimento infantil?
A mastigação é a fase inicial do processo digestivo e é uma das funções mais importantes do sistema estomatognático, um conjunto de estruturas bucais que é formado por músculos, ossos,
dentes, lábios, língua, bochechas, dentre outras estruturas responsáveis por executar as funções de sucção, mastigação, deglutição, fonoarticulação e respiração
Além da função de triturar os alimentos para facilitar a digestão, a mastigação tem uma função muito importante, que é fortalecer os músculos da face e da boca, além estimular o crescimento dos ossos da face, influenciando na harmonia óssea e dentária e com isso contribuindo para um bom desenvolvimento da fala.
Desta forma, quando uma criança mastiga, além de triturar o alimento, ela também fortalecer musculatura necessária para uma boa produção dos sons da fala.
Diante disso, o papel do fonoaudiólogo que vai atuar com atraso de fala, também deve se concentrar em avaliar e atuar em todas as etapas da mastigação e deglutição.
Além disso, o terapeuta também deve investigar se a criança apresenta alguma resistência em experimentar novos alimentos ou possui alguma seletividade em relação a algum grupo, ou tipo de alimento.
No geral, em crianças típicas a exposição a diferentes “vivências” orais ocorre naturalmente à medida que elas crescem e são expostas a diferentes tipos de alimentos e texturas.
No entanto, crianças com TEA podem apresentar dificuldades relacionadas à alimentação, e por isso apresentarem hipotonia (baixo tônus muscular), hipersensibilidade oral ou até mesmo comportamentos alimentares seletivos.
Mas qual a relação da fala com a mastigação e a consistência dos alimentos?
Os atrasos de fala, podem estar relacionados às dificuldades na articulação e ter como causa alterações físicas e/ou motoras que acometem os órgãos envolvidos na produção dos sons.
Hábitos orais, como sucção do dedo, chupeta e/ou mamadeira, dependendo do tempo, duração e intensidade, poderão causar alterações no crescimento da face, alteração na posição dos dentes, alteração na musculatura orofacial, prejuízo nas funções de respiração, mastigação, deglutição e fala.
Nestes casos, a atuação fonoaudiológica deve ser voltada para compreender como estes hábitos surgiram e porque ainda estão instalados, além de conscientizar a criança e a família quanto a importância da sua remoção.
E quando necessário prescrever exercícios para adequação da musculatura orofacial, e para o equilíbrio das funções do sistema estomatognático.
Uma outra questão bastante importante para o desenvolvimento da fala é o hábito da mastigação.
Não é incomum na nossa prática clínica nos depararmos com queixas de famílias em relação aos hábitos alimentares das nossas crianças, na qual muitos referem que a criança não aceita determinados alimentos, ou até mesmo prefere alimentos mais “fáceis” de comer, como:
- Alguns embutidos;
- Purês;
- Leite na mamadeira;
- Macarrão instantâneo;
- Iogurtes industrializados e
- Bisnaguinhas.
Crianças que preferem alimentos mais “fáceis” de comer ou tem uma restrição alimentar significativa, vivenciam poucas experiências orais, e com isso a participação da musculatura orofacial envolvida é menor.
Esta condição pode contribuir para alteração da arcada dentária, alteração da mobilidade e tonicidade da musculatura orofacial, e isso pode ter um impacto significativo no desenvolvimento da fala.
E qual a relação da mastigação com o autismo?
No TEA, dificuldades com a alimentação são queixas frequentemente descritas pelas famílias.
Dentre as mais comuns podemos citar:
- Resistência para provar novos alimentos;
- Resistência para aceitar alimentos de determinadas consistências, texturas, cor ou temperatura;
- Hipersensibilidade oral;
- Padrões alimentares atípicos;
- Padrões alimentares repetitivos.
- Até a forma de apresentação do alimento em relação à embalagem e marca podem influenciar na aceitação da criança com TEA.
Estas dificuldades podem estar relacionadas com questões como dificuldades motoras orais, gastrointestinais ou disfunções sensoriais. Por isso é muito importante uma avaliação e um acompanhamento multidisciplinar.
Considerando que estes comportamentos podem ser barreiras para que a criança vivencie diferentes experiências com os alimentos, a participação da musculatura orofacial envolvida na mastigação será menor.
E como vimos, isso pode contribuir para uma alteração no desenvolvimento da fala.
Como o fonoaudiólogo pode ajudar nas dificuldades relacionadas à mastigação e desenvolvimento de fala?
Diante de tudo que lemos, pode-se notar que a alimentação infantil favorece o crescimento e desenvolvimento adequado da criança, contribuindo para o desenvolvimento adequado de diversas funções miofuncionais, incluindo-se a fala.
Por isso, ao atender crianças com queixas alimentares, o fonoaudiólogo deve se lembrar das seguintes questões:
- A amamentação fortalece toda a musculatura orofacial do bebê, diminuindo riscos de problemas futuros em funções importantes, tais como a respiração, mastigação, deglutição e fala.
- Falando sobre a introdução alimentar, a princípio a criança deve receber a comida amassada com garfo (Não! Não é necessário bater no liquidificador), em seguida, receber alimentos em pedaços pequenos, raspados ou desfiados, além de alimentos macios em pedaços maiores, para que ela possa pegar com a mão e levar à boca. E assim ela vivenciará uma experiência com diferentes consistências e grupos de alimentos e irá se aprimorar cada vez mais na função da mastigatória.
- Crianças maiores, devem comer a comida da família, e a família deve estimular uma alimentação com diferentes consistências, como forma de fortalecer a musculatura orofacial e proporcionar o desenvolvimento harmonioso da face. Além de evitar o uso de telas e outros distratores durante este momento.
- Nunca devemos dizer que criança tem preguiça para mastigar. Devemos considerar que algumas delas possuem alteração na musculatura responsável pela mastigação, e por este motivo, preferem alimentos mais “fáceis” de mastigar.
- Hábitos orais poderão causar alterações na musculatura orofacial e prejuízo nas funções de respiração, mastigação, deglutição e fala. Nestes casos a atuação deve ser voltada para compreender estes hábitos, além de conscientizar a criança e a família quanto a importância da sua remoção.
- E por fim, mas não menos importante, o fonoaudiólogo que deseja atuar com essa população necessita se capacitar, visto que identificar as dificuldades de fala e dificuldade miofuncionais envolvidas no processo alimentar, não são suficientes para uma intervenção efetiva.
Dicas que podem ajudar pais e pessoas cuidadoras
Para pais e cuidadores de crianças com TEA, aqui estão algumas dicas práticas para ajudar a promover a mastigação e o desenvolvimento da fala:
- Ofereça variedade de alimentos: introduza uma variedade de texturas e sabores de alimentos para incentivar a mastigação. Seja paciente e persistente, pois pode levar tempo para a criança se acostumar com novos alimentos.
- Crie um ambiente positivo para as refeições: mantenha as refeições calmas e livres de estresse. Use reforços positivos para encorajar a criança a experimentar novos alimentos.
- Realize brincadeiras estimulantes: por meio das brincadeiras as crianças aprendem muitas coisas, portanto, pense em brincadeiras que possam estimular a experiência com nossos alimentos, brincadeiras que estimulam a criança mastigar, a falar, imitar o som dos animais, imitar diferentes vozes, entre outras. Independente da brincadeira escolhida, o importante é lembrar que o tempo de qualidade torna as refeições mais prazerosas para as crianças.
- Trabalhe em equipe: Lembre-se, não existe criança com preguiça de mastigar, diante de qualquer dificuldade,procure o fonoaudiólogo, o terapeuta ocupacional e/ou outros profissionais para avaliar e criar um plano de intervenção para a criança.
Conclusão
Diante de tudo que lemos, pode-se notar que a alimentação infantil favorece o desenvolvimento adequado da criança, contribuindo para o desenvolvimento da fala.
Mas vale ressaltar que alteração de motricidade oral é apenas uma das causas de alterações da fala, cabe ao fonoaudiólogo avaliar e determinar por meio de avaliações específicas a etiologia da alteração e a melhor estratégia de intervenção.
Além disso, vale lembrar que o ato de comer vai muito além de questões nutricionais e fisiológicas, a alimentação está inserida em um contexto social e cultural, frequentemente repleto de significados e afetividade familiar.
Por essa e outras razões, o fonoaudiólogo que deseja atuar com crianças com queixas alimentares necessita se capacitar, visto que identificar as dificuldades de fala e dificuldade miofuncionais envolvidas no processo alimentar, não são suficientes.
Pais e cuidadores devem trabalhar em conjunto com profissionais da saúde para criar um ambiente de apoio e incentivo, promovendo o desenvolvimento integral da criança.
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