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Fono praticando processamento de linguagem com paciente

O que é Processamento de linguagem? Entenda a diferença do processamento Gestalt e Analítico

Você sabia que existem duas maneiras de aprender linguagem? Esse aprendizado pode ser feito através do processamento de linguagem, seja ele o Processamento Analítico da Linguagem ou o processamento Gestalt da Linguagem.

É importante lembrar que ambas são válidas e uma não impede que a outra aconteça também. Isso porque, o processamento de linguagem será um processo individualizado de cada pessoa e como ela consegue compreender, interpretar e produzir a linguagem após receber todos os estímulos do ambiente.

Quando falamos de profissionais da fonoaudiologia ou outras pessoas clínicas envolvidas nas intervenções de crianças com autismo, esse é um tema muito importante, já que ajuda a identificar e tratar distúrbios de linguagem, além de melhorar métodos educacionais e de comunicação.

Neste texto, vamos falar sobre o processamento de linguagem e entender a diferença do processamento Gestalt e do Analítico. Acompanhe e aprenda sobre o assunto!

O que é processamento de linguagem?

O processamento de linguagem é um conjunto multifacetado e complexo de processos neurais em torno de como expressamos, entendemos e interpretamos a linguagem.

Existem muitas teorias sobre o processamento da linguagem em diversos campos de estudo, como fonoaudiologia, desenvolvimento infantil, linguística e psicolinguística. Essas teorias evoluíram e mudaram ao longo do tempo e continuarão a evoluir.

E continuaremos a evoluir à medida que mais pesquisas surgirem e aprendermos coisas novas. É disso que se trata a ciência!

Atualmente, na área de Fonoaudiologia, entendemos dois tipos de desenvolvimento e processamento da linguagem: Processamento Analítico de Linguagem e Processamento Gestalt de Linguagem.

Estes não são um diagnóstico. São simplesmente as maneiras pelas quais uma pessoa pode processar e desenvolver a linguagem.

Assim, cada uma dessas abordagens oferece uma perspectiva única sobre como entendemos e interpretamos a linguagem em nosso cérebro. Vamos entender melhor.

Processamento de linguagem analítica

No desenvolvimento da linguagem analítica, uma pessoa aprende as partes antes de aprender a combiná-las em um todo.

Assim, ela aprende palavras isoladas e depois aprende como combinar palavras isoladas em frases com múltiplas palavras.

Esta é a forma de desenvolvimento da linguagem com a qual as pessoas estão mais familiarizadas, construindo a linguagem palavra por palavra para chegar no significado.

“Eu” + “Quero” + “Queijo” + “Parmesão” = “Eu quero queijo parmesão”

Processamento de linguagem Gestalt

Já no Processamento de Linguagem Gestalt, uma pessoa atribui significado a uma frase inteira.

Ela usa essa frase, (Você também pode ter ouvido isso ser referido como ‘ecolalia tardia’ em alguns processadores gestalts.), para expressar o significado associado na comunicação.

“Ex.: Eles podem dizer “Quero queijo parmesão!” para expressar a sensação de fome ou vontade de comer.”

Em outras palavras, no processamento de linguagem Gestalt uma criança aprende por meio da produção de encadeamentos de palavras que servem como uma unidade de sentido.

Dessa forma, a produção de palavras isoladas acontece em um estágio mais adiante do seu desenvolvimento.

Posteriormente essa pessoa aprende como toda essa expressão pode ser dividida em partes. Em seguida, eles aprendem a fazer novas frases, recombinando as palavras — sendo as partes palavras isoladas ou pedaços de frases.

O processamento gestalt da linguagem é uma parte normal do desenvolvimento da linguagem. Todas as crianças têm alguns gestalts, mesmo que comecem a falar palavra por palavra.

Por exemplo, a maioria das crianças — e adultos — processa “de nada” como um gestalt. Eles não estão pensando em juntar o significado “de” e “nada” – eles estão apenas vendo o todo.

A compreensão da ecolalia no processamento de linguagem

Existem muitas visões em torno da ecolalia e do processamento da linguagem Gestalt. Antigamente, a ecolalia era interpretada como uma comunicação não funcional e algo que precisava ser extinto do comportamento da pessoa.

Atualmente, a literatura já conseguiu quebrar essa barreira e, por exemplo, a Associação Americana de Fala, Linguagem e Audição (ASHA) já confirmou intenção comunicativa na ecolalia.

Além disso, de acordo com um estudo recente (Cohn et al., 2023), os pais reconhecem inerentemente que a ecolalia dos seus filhos tinha significado e que o significado exigia conhecimento contextual.

Os pais viam a ecolalia como algo:

  • Comunicativo
  • Regulatório
  • Relacionado ao aprendizado de idiomas
  • Contextual
  • Funcional
  • Significativo

Os Processadores Gestalt da Linguagem usam ecolalia tardia para adquirir linguagem (repetindo palavras/frases de programas de TV, YouTube e outras pessoas), e usar abordagens analíticas para estudantes de linguagem gestalt não vai funcionar, e vice-versa.

Ou seja, processadores Gestalts não avançam com os métodos típicos usados na terapia.

Como saber se alguém pode ser um Processador de Linguagem Gestalt?

Entender as diferenças entre processamento Gestalt e analítico pode ajudar pais e profissionais da saúde na hora de desenvolver estratégias de ensino e intervenção para crianças com dificuldades de linguagem.

Separamos alguns indicativos que podem ajudar a entender se uma pessoa é um processador de linguagem Gestalt. São eles:

  • Emite frases usando a mesma entonação – sequências de palavras que soam como algo sem sentido, mas têm entonação que parece repetir em outras frases.
  • Resposta à música e ao ritmo – pode preferir ouvir falas ritmadas e músicas;
  • Movimentos roteirizados ou reconstituição de movimentos/cenas de personagens;/li>
  • Visualização repetitiva de clipes de vídeo ou áudio, que eles podem usar para se comunicar.

Para pessoas que falam, muitas vezes é fácil identificar alguém que é um processador gestalt da linguagem.

Elas repetem frases favoritas com a mesma entonação com que as ouviram originalmente, repetem perguntas ao invés de respondê-las.

Aprendem frases completas antes de aprender a usar palavras isoladas e combiná-las entre si. É muito comum que pessoas autistas sejam principalmente processadores Gestalts da linguagem.

E em pessoas não falantes, podemos observar suas ações, geralmente um processador gestalt não falante tem o hábito de ver repetidamente trechos de vídeos ou áudios — possivelmente tentando comunicar algo.

Dessa forma, essa pessoa gosta de repetir a estrutura das brincadeiras, gosta de guardar os brinquedos em conjunto e se irrita se uma peça estiver faltando (pois percebe o conjunto como um todo).

E suas vocalizações geralmente são ininteligíveis, mas possuem emissões longas e cheias de entonação, além disso, são pessoas que não evoluem em métodos tradicionais de CAA.

O Processamento de Linguagem Gestalt e CAA

Se faz necessário mais pesquisas sobre Processamento de Linguagem Gestalt e CAA, mas já existem pesquisas sobre as melhores práticas em torno da CAA para os processadores gestalt, como:

  • acesso a palavras-chave, usando entrada/modelagem de palavras acessórias sem expectativa
  • usando expansão/extensão para construir e modelar frases.

Há fatores adicionais a serem considerados para os Processadores de Linguagem Gestalt, que podem ajudar nas adaptações dessa pessoa, como:

  • Reconhecer a importância da produção e entonação de voz;
  • Capacidade de personalizar frases;/li>
  • Capacidade de modelar as “partes” e o “todo”
  • Acesso a scripts úteis e modelados

4 Reflexões para a configuração da CAA no aplicativo

Abaixo está uma lista de perguntas que podem começar a orientar um profissional sobre onde colocar uma gestalt no aplicativo de CAA.

  1. Como eles estão usando isso? Que função isso desempenha em sua vida e em sua comunicação?
  2. É situacional? – Nesse caso, pode ser bom para uma prancha temática ou uma página dedicada a essa situação.
  3. Quão importante é para a sua comunicação? Com que frequência eles precisarão acessá-lo?
  4. Poderia este gestalt fornecer aprendizagem de línguas direcionada ou apoio ao desenvolvimento?

Individualizar a CAA para atender às necessidades e preferências da pessoa (ao mesmo tempo em que mantém um vocabulário robusto e acesso às palavras básicas) é essencial para o sucesso comunicativo!

O que podemos fazer para promover o desenvolvimento da linguagem Gestalt?

  • Investigue e entenda como sua criança está usando a ecolalia tardia;
  • Entenda que a ecolalia pode carregar uma intenção comunicativa;
  • Valide toda e qualquer forma de ecolalia tardia;
  • Adicione gestalts favoritos no dispositivo de CAA;
  • Modele gestalts funcionais em vez de fazer perguntas continuamente.
  • Crie melodias ao modelar a linguagem, pois isso geralmente torna mais fácil para eles acessarem essas frases ao lembrá-las.

Lembre-se de que a ecolalia que você ouve com frequência está profundamente ligada à emoção, portanto, prestar atenção a ela pode dar pistas sobre o estado emocional da pessoa.

Conclusão

O processamento de linguagem é um campo multifacetado que envolve tanto abordagens Gestalt quanto analíticas.

Compreender essas diferenças pode garantir estratégias para melhorar a comunicação e o aprendizado, tanto para crianças quanto para adultos.

É importante lembrar que a ecolalia tem um propósito nesse processo e procurar as formas como a pessoa está se comunicando para desenvolvê-las de forma assertiva.

Usar as gestalts como uma “rampa de comunicação” para desenvolver a linguagem e a competência em CAA é valioso, já que a comunicação é compartilhada, mas também é individual.

Lembre-se, a CAA deve ser individualizada para todas as pessoas, e as pranchas de comunicação não podem ser compartilhadas. Não tenha medo de tentar nossas possibilidades de aprendizado para uma comunicação melhor
Saiba que o desenvolvimento da linguagem leva tempo e provavelmente exigirá algumas tentativas e erros e tudo bem.

Experimente práticas baseadas em evidências e mantenha uma comunicação aberta com o usuário de CAA e sua equipe para descobrir o que funciona melhor para eles. Leia nosso texto sobre as Práticas Baseadas em Evidências e continue aprendendo:

Práticas baseadas em evidências

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