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As estereotipias, também conhecidas como stims, são movimentos ou comportamentos repetitivos comuns em pessoas autistas. Frequentemente, estão associados à autorregulação sensorial, emocional ou à expressão de estados internos, e não indicam necessariamente que a pessoa precisa de ajuda para controlá-los ou eliminá-los.
Muitas famílias se perguntam se a ABA (Análise do Comportamento Aplicada) pode contribuir para o manejo desses comportamentos e qual é a abordagem mais respeitosa e eficaz nesse contexto.
Comportamentos como girar objetos, agitar as mãos, acenar, balançar o tronco ou a cabeça, abrir e fechar a boca, ou bater os pés são alguns dos mais observados no cotidiano de crianças autistas.
Esses comportamentos repetitivos podem ser algo bem marcante na vida de quem convive com indivíduos no espectro, podendo envolver um ou todos os sentidos, variando de pessoa para pessoa, durante segundos, minutos ou até mesmo horas.
Mas afinal, as estereotipias são problemáticas e precisam ser eliminadas? Qual a melhor intervenção para acabar com esses movimentos? Como entender porque eles acontecem com tanta frequência? É o que explicamos neste artigo.
Você vai entender se a terapia ABA reduz comportamentos estereotipados e como os profissionais podem ajudar no bem-estar e qualidade de vida da criança com TEA. Confira!
O que são estereotipias?
As estereotipias são comportamentos repetitivos e geralmente rítmicos, como movimentos corporais, sons ou manipulações de objetos, que podem ocorrer com frequência no cotidiano de pessoas autistas. A presença desses comportamentos é uma das manifestações possíveis do Transtorno do Espectro Autista (TEA), compondo o grupo de comportamentos restritos e repetitivos, um dos critérios diagnósticos descritos no DSM-5.
Essas estereotipias podem incluir movimentos motores, padrões verbais repetitivos ou uso peculiar de objetos, e costumam estar relacionadas a funções como autorregulação sensorial, emocional ou até de expressão interna.
Um termo amplamente utilizado por pessoas autistas para se referir a esses comportamentos é “stim”, derivado do inglês self-stimulatory behavior (comportamento autoestimulatório). Ao contrário da interpretação comum de que esses comportamentos precisam ser evitados ou controlados, muitas pessoas autistas relatam que os stims ajudam a regular estímulos internos e externos, trazendo conforto e organização ao ambiente sensorial.
O que são stims?
Stims é uma abreviação de self-stimulatory behaviors, termo em inglês que se refere aos mesmos comportamentos frequentemente chamados de estereotipias. Em essência, não há diferença funcional entre estereotipias e stims no contexto do autismo – são formas distintas de nomear comportamentos que têm a função de autorregulação, organização interna ou expressão de emoções.
Enquanto “estereotipia” é um termo mais comum na literatura científica, “stim” é frequentemente adotado pela comunidade autista por refletir uma visão mais positiva e funcional desses comportamentos.
Stims são naturais e desempenham um papel importante no bem-estar de muitas pessoas autistas, podendo auxiliar na regulação sensorial, no foco e na redução da ansiedade.
O que são comportamentos estereotipados?
Comportamentos estereotipados são uma forma de se referir às estereotipias frequentemente observadas em pessoas autistas. De modo geral, envolvem ações repetitivas e previsíveis, como movimentos motores, uso repetitivo da fala ou manipulação de objetos, e fazem parte do grupo de comportamentos restritos e repetitivos descritos nos critérios diagnósticos do Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Esses comportamentos podem se intensificar em contextos de sobrecarga sensorial, ansiedade, excitação ou necessidade de autorregulação, e muitas vezes têm uma função específica para a pessoa, seja acalmar-se, focar, expressar emoções ou reduzir estímulos incômodos.
A presença frequente de comportamentos estereotipados pode ser um dos indicadores clínicos do TEA, em conjunto com dificuldades na interação social e na comunicação, conforme descrito no DSM-5.
No entanto, é fundamental lembrar que comportamentos repetitivos não são exclusivos de pessoas no espectro autista.
Pessoas neurotípicas também podem apresentar comportamentos semelhantes, como estalar os dedos, balançar as pernas, morder tampas de caneta ou enrolar mechas de cabelo, especialmente em momentos de ansiedade ou concentração.
A diferença costuma estar na frequência, intensidade e função desses comportamentos no contexto do desenvolvimento global do indivíduo.
Qual a diferença entre estereotipia e comportamentos estereotipados?
Não há diferença conceitual significativa entre os termos “estereotipia” e “comportamento estereotipado” Ambos se referem a comportamentos repetitivos que podem ser motores, verbais ou posturais, e que fazem parte dos critérios diagnósticos do Transtorno do Espectro Autista (TEA), no domínio dos comportamentos restritos e repetitivos.
O que acontece é que existem algumas estereotipias mais comuns e conhecidas pelas pessoas, com nomes diferentes, como o flapping, por exemplo, que é o ato de sacudir ou balançar as mãos repetidamente.
Esse comportamento é descrito como semelhante ao bater de asas de um pássaro e pode ocorrer em situações de excitação, alegria, ansiedade ou frustração, sendo uma forma comum de expressão emocional e autorregulação em muitas crianças autistas.
O que é flapping no autismo?
Flapping é um termo em inglês que representa um movimento repetitivo e rítmico feito com as mãos, que é parecido com o bater de asas dos pássaros. Dessa forma, o flapping nada mais é do que uma forma de estereotipia comum em pessoas autistas.
É muito comum que crianças com TEA façam o movimento repetitivo de balançar as mãos. Inclusive, essa é uma das características que muitas pessoas associam com autismo, mesmo sem saber se existe um diagnóstico.
O flapping, assim como outros comportamentos estereotipados, pode variar em intensidade e frequência. Ou até mesmo não acontecer em determinadas pessoas.
Cada indivíduo no espectro é único e desenvolve suas próprias formas de autorregulação emocional e sensorial, portanto, ainda que o flapping seja um comportamento comum, não deve ser considerado um marcador exclusivo ou universal do autismo.
Exemplos de estereotipias no autismo
Como cada pessoa é única e apresenta singularidades em seus comportamentos, as estereotipias podem variar. Porém, algumas das mais comuns no autismo são:
- Balançar o corpo;
- Agitar as mãos;
- Bater os pés;
- Repetir sons ou palavras;
- Girar o corpo ou a cabeça.
Esses são os exemplos mais comuns quando falamos em comportamentos repetitivos, mas não se resumem apenas a isso!
À medida que a criança cresce e se desenvolve, pode adaptar espontaneamente a forma como realiza esses comportamentos, tornando-os mais discretos, especialmente em contextos sociais. Exemplos comuns dessas formas mais sutis incluem:
- Apertar rapidamente um botão de caneta;
- Movimentar as pernas constantemente;
- Direcionar o impulso do movimento para atividades secundárias, como riscar uma folha;
- Cruzar e descruzar as pernas várias vezes;
- Roer as unhas continuiamente;
- Estalar os dedos rapidamente;
- Entre outros.
Mesmo sem perceber, muitas pessoas (independentemente de estarem no espectro ou não) também realizam comportamentos repetitivos, especialmente em momentos de ansiedade, concentração ou excitação emocional.
A principal diferença é que, em pessoas neurotípicas, esses comportamentos tendem a ser socialmente aceitos ou facilmente modulados em situações públicas, enquanto em pessoas autistas, podem ser mais visíveis, frequentes ou ter funções sensoriais específicas.
É necessário reduzir ou acabar com as estereotipias no autismo?
Ao contrário do que muitas pessoas pensam, as estereotipias não precisam ser necessariamente retiradas. Esses comportamentos podem desempenhar funções importantes de autorregulação emocional, sensorial e até de organização interna para a pessoa autista.
A intervenção só deve ser considerada quando as estereotipias representam risco concreto à integridade física da própria pessoa ou de outras ao redor, como em casos de comportamentos autolesivos ou lesivos. Nesses contextos, estratégias baseadas em Análise do Comportamento Aplicada (ABA) podem ser utilizadas com foco na segurança, sempre respeitando a individualidade da pessoa e com alternativas funcionais.
Ainda assim, é comum que famílias expressem preocupação com o estranhamento social que esses comportamentos podem causar em ambientes públicos. Mas, como dissemos anteriormente, movimentos estereotipados não são comuns apenas em pessoas no TEA, mas em todos nós.
Portanto, eliminar um comportamento com função regulatória apenas por pressão social ou tentativa de “normalização” não é recomendado. Essa abordagem pode gerar sofrimento, inibir a expressão autêntica e comprometer a qualidade de vida da pessoa autista. A intervenção ética deve sempre considerar o bem-estar, a funcionalidade e o respeito à neurodiversidade.
A terapia ABA reduz comportamentos estereotipados?
Ao refletirmos sobre isso, é importante lembrar que a terapia ABA tem como base a observação, análise funcional e intervenção em comportamentos com foco em promover autonomia e qualidade de vida.
Sim, é possível intervir sobre estereotipias por meio da ABA, mas essa intervenção só é indicada quando os comportamentos são prejudiciais, interferem significativamente na aprendizagem ou colocam a pessoa ou outros em risco.
É fundamental compreender que, ao contrário do senso comum, comportamentos estereotipados não devem ser automaticamente suprimidos, já que, em muitos casos, cumprem funções importantes de autorregulação emocional ou sensorial para a pessoa autista.
Além disso, a maioria desses comportamentos não apresenta caráter lesivo nem autolesivo, e pode até servir como um dos indicadores iniciais para o diagnóstico de TEA, auxiliando famílias e profissionais na identificação precoce.
Portanto, o foco das intervenções não deve ser o “controle” ou “eliminação” das estereotipias, mas sim a compreensão do seu papel na vida da pessoa e a avaliação de possíveis prejuízos funcionais. A intervenção ética considera a função do comportamento, o contexto em que ele ocorre e o impacto real sobre o bem-estar do indivíduo.
Por isso, é essencial que famílias e cuidadores reflitam sobre os motivos que os levam a desejar a redução desses comportamentos. Se esse desejo estiver baseado apenas em pressões sociais ou expectativas de conformidade a padrões normativos, a intervenção pode, na verdade, comprometer a qualidade de vida, o conforto e a autonomia da pessoa autista.
Como a intervenção ABA pode ajudar as estereotipias?
A Análise do Comportamento Aplicada (ABA) tem como fundamento analisar as funções dos comportamentos para conseguir entendê-los, ou seja, por que eles ocorrem, em quais contextos e com quais consequências. Por essa razão, não há uma técnica padronizada ou universal para “reduzir” estereotipias, especialmente porque esses comportamentos muitas vezes têm uma função legítima e adaptativa para a pessoa autista.
O foco das intervenções em ABA é ampliar o repertório comportamental funcional da pessoa, promovendo habilidades que favoreçam sua autonomia, comunicação, participação social e bem-estar. Isso pode incluir, por exemplo, ensinar novas formas de se expressar, interagir ou lidar com situações desafiadoras, sem necessariamente suprimir comportamentos que não causam prejuízos.
Por isso, a equipe multidisciplinar irá analisar o que a criança já apresenta e criar um plano de ação focado nessas necessidades.
Nesse caminho, as práticas baseadas em evidências podem ajudar a encontrar a melhor forma de desenvolver habilidades específicas de acordo com cada ação cotidiana, como escovar os dentes, trocar de roupa ou se alimentar, por exemplo.
Assim, é preciso entender qual a melhor estratégia dentro da ABA e saber auxiliar a pessoa com autismo a encontrar novas maneiras de se relacionar com o espaço e as pessoas que a cercam.
Conclusão
A terapia ABA pode, sim, atuar sobre comportamentos estereotipados, mas qualquer intervenção nesse sentido deve ser cuidadosamente avaliada e justificada apenas quando houver risco concreto à pessoa autista ou a outras pessoas.
Fora desses contextos, é essencial compreender que as estereotipias cumprem funções importantes, como a autorregulação emocional e sensorial, e fazem parte da forma como muitas pessoas autistas interagem com o mundo.
Quando uma pessoa no espectro realiza ações repetitivas, essas condutas frequentemente têm um propósito claro, ainda que não seja imediatamente compreendido por quem observa. Em vez de reprimir esses comportamentos, o mais indicado é investigar suas funções e, quando necessário, oferecer alternativas igualmente reguladoras, respeitosas e funcionais.
Por isso, compreender os motivos ligados à ocorrência dessas estereotipias com o apoio de uma equipe especializada e colaborativa é fundamental para promover intervenções éticas, centradas na pessoa e que favoreçam sua autonomia, bem-estar e qualidade de vida.
Aqui na Genial Care, nosso compromisso é justamente ajudar crianças com TEA a desenvolverem seu máximo potencial, respeitando suas individualidades e promovendo qualidade de vida para toda a família.
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